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Nossa dificuldade em nos perdoar: refletindo sobre autoperdão

Por muito tempo na minha vida, fiquei pensando em atitudes que tomei nos anos anteriores.
Nossa dificuldade em nos perdoar refletindo sobre autoperdão

Há algum tempo tenho me debruçado em leituras que fogem do padrão de escritores homens- brancos- europeus/norte-americanos e tenho feito excelentes descobertas.

Essa diversidade de narrativas tem me ajudado a ampliar meus horizontes.

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Nessa semana, concluí a leitura da novela “O que encontramos nas chamas”, da escritora Mayra Sigwalt.

Primeiramente, gostei muito do fato da história ser protagonizada por duas meninas, uma de descendência indígena e outra negra.

Não farei aqui uma crítica ao livro. A história contempla assuntos delicados e acredito que não tenho propriedade para dissertar sobre eles.

Na verdade, um ponto crucial na história me chamou a atenção e é sobre o que falarei a seguir: nossa dificuldade em nos perdoar.

 Não perdoar: O passado que não passa

Por muito tempo na minha vida, fiquei pensando em atitudes que tomei nos anos anteriores.

Perdia horas de sono me questionando o motivo de ter feito algumas escolhas, quando na verdade, poderia ter obtido mais sucesso se optasse por outros caminhos.

Obviamente, é muito mais fácil analisar os erros de um “jogo” já finalizado.

Durante o processo, a incerteza do aqui-e-agora nos faz tomar condutas que julgamos corretas naquela ocasião, quando muitas vezes sequer tivermos tempo para, de fato, pensarmos em todas as possibilidades existentes.

E ainda que tivéssemos esse tempo, o que garante que não mudaríamos de ideia após termos optado por seguir determinada direção?

Por ironia do destino, notei que um número razoável de pacientes que atendo trazem essa mesma queixa.

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Ouvindo-os, me vejo ali, no lugar de paciente, relatando as mesmas angústias para a minha terapeuta.

Em todos esses diálogos, um fator que me parece comum é uma aparente cobrança excessiva.

Cobramos de nós mesmos uma maturidade que não tínhamos naquele momento. 

Observo, também, uma certa rigidez. É como se tivéssemos apenas uma coisa certa a ser feita naquela ocasião.

E só agora, anos depois, é que descobrimos a alternativa correta daquela prova.

Provavelmente, a decisão que tomamos parecia adequada naquele momento.

Além disso,  quem sabe se tivéssemos feito diferente não estaríamos agora pensando que deveríamos ter tomado a atitude que hoje julgamos equivocada?

Sofrimento: Será que é isso que nos molda?

Talvez esse evento doloroso pode ter sido um dos responsáveis pelo processo de mudança que nos fez chegar ao atual momento.

Entenda que não estou romantizando o sofrimento. Não acredito que “Depois da tempestade, vem a bonança”.

Às vezes, a suposta calmaria depois da tempestade é simplesmente a ausência dela.

Quero dizer que o sofrimento pode evidenciar algo em nós que precisávamos olhar e estávamos negligenciando.

Saúde x Adoecimento

No livro “O normal e o patológico” de Georges Canguilhem, vemos uma série de discussões sobre a linha tênue que separa esses dois conceitos.

Em um dos textos, um médico define a saúde como a ignorância do corpo.

Em outras palavras, só temos conhecimento de muitos de nossos órgãos e membros quando adoecemos.

Você só lembra do seu dedo mindinho do pé esquerdo quando bate ele em algum lugar. Da mesma forma, só lembra da existência do pulmão quando está com dificuldade de respirar.

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Quando tudo está bem, entramos em um modo automático e esquecemos. A meu ver, a mesma ideia se aplica ao sofrimento psíquico.

Ele é a lembrança de que algo não está bem e que deveríamos dar mais atenção para aquele doloroso assunto, ainda que seja difícil.

É possível que você não tivesse chegado ao estado de maturidade em que está hoje sem essas experiências dolorosas que habitam suas memórias.

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Sobre o autor(a)

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Rodrigo Xavier Franc

Graduado em Psicologia, ampla vivência com pessoas em situação de rua e dependentes químicos. Atualmente realizo atendimento clínico nos bairros de Santana e Higienópolis.
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