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Pedofilia versão 2.0: A ameaça mais perto do que imaginamos

“Não fale com estranhos!”. Os abusos sexuais continuam existindo, mas agora as práticas de pedofilia estão ficando cada vez mais ‘sofisticadas’.
Pedofilia versão 2.0 A ameaça mais perto do que imaginamos

“Não fale com estranhos!”. Não era isso o que a gente ouvia dos nossos pais, avós? Bom, refletia uma mentalidade muito comum na época: as crianças poderiam ser sequestradas ou abusadas por mendigos, moradores de rua, geralmente considerados “feios, sujos, malvados”.

Mas hoje a situação mudou. E muito. Mas para pior. Os abusos sexuais continuam existindo, mas agora as práticas de pedofilia estão ficando cada vez mais ‘sofisticadas’.

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Hoje em dia, colocamos os ‘estranhos’ para dentro das casas, confiamos neles, temos amizade (e até amor!) por eles, enquanto eles sorrateiramente abusam das nossas crianças. É isso mesmo.

O abuso sexual geralmente é intrafamiliar, acontece no lar, exatamente protegido pelo segredo, pela relação de confiança e poder do adulto sobre a criança, geralmente praticado por um parente ou pessoa próxima da criança, em quem ela confia e pede proteção e carinho (mas essa proteção e carinho são ‘traídos’ na relação sexual incestuosa).

A criança fica confusa, pode se sentir atraída (seduzida) por se sentir ‘especial’, ou ameaçada e amedrontada pela opressão do abusador.

Incesto ou pedofilia?

Antes de maiores explicações, é importante esclarecermos três conceitos básicos:

  1. Diferença entre incesto e pedofilia: ambos são relações sexuais com crianças (pelo nosso Código Penal, relações com menores de 14 anos são imediatamente consideradas crimes, porque crianças nessa idade não têm condições de discernir ou de consentir no ato sexual – o mesmo vale para vítimas com mais idade, mas que tenham capacidade mental reduzida, como nas deficiências intelectuais, por exemplo).

Mas no incesto, a relação sexual ocorre entre membros da mesma família (vínculo afetivo e/ou biológico), enquanto a pedofilia é a atração sexual por crianças, independente de qualquer vínculo, até mesmo entre estranhos.

2. Mulheres também abusam sexualmente de crianças! Sim, geralmente pensamos em ‘abusador’ do sexo masculino, porque temos no nosso imaginário que a expressão sexual é típico de homem (só homem pratica adultério, “prende a sua galinha que meu galo está solto!”, já ouviram isso?), que mulher que manifesta sua sexualidade é “galinha” ou “piranha”.

Mas pode acontecer de alguma mulher também manifestar preferência sexual por crianças: mães, tias, irmãs mais velhas, avós, babás, empregadas, professoras, berçarista. E não há distinção de gênero de vítimas, mas geralmente podem dar preferência a meninos.

O problema é que muitos meninos vítimas desse tipo de violência optam por não revelar (porque se sentem constrangidos não somente pela violência em si mas também por terem sido vítimas de mulheres), ou quando revelam, atribuem o ato a algum homem (também porque sentem vergonha de dizer que foram molestados por alguma mulher…).

3. Abuso sexual não precisa ser físico, nem mesmo violento: podem ser várias formas diversas da chamada ‘conjunção carnal’ (penetração anal ou vaginal), como o exibicionismo (mostrar as partes íntimas ou pedir que a vítima exiba as suas), voyeurismo (observar pessoa nua), toques, massagens sexuais (que não precisam de penetração).

Cyberpedofilia ou pedofilia “versão 2.0”

E agora a ‘versão 2.0’ da pedofilia, a cyberpedofilia: produção e/ou armazenamento e/ou compartilhamento de fotos e/ou vídeos de crianças e adolescentes na deep web.

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Os pedófilos capturam imagens e criam grupos secretos de compartilhamento, podendo se excitar sexualmente somente com a filmagem e/ou visualização delas.

A captura de imagens pode ser intencional ou acidental, por exemplo quando um(a) adolescente compartilha fotos íntimas próprias ou de terceiros, para satisfação sexual ou por vingança, e essa imagem, ‘caindo na rede’, é capturada por um pedófilo.

Alguns pedófilos podem não se contentar em ficar vendo imagens e podem querer procurar vítimas reais para sua satisfação.

Daí a importância de se orientar os adolescentes a não produzem nem compartilharem fotos íntimas (sexting), mas isso fica para um outro artigo, ok?

Ah, só um lembrete a quem acha que Internet é “território livre” e que “ninguém vai ficar sabendo”: não somente ofensas, calúnias, fake news cedo ou tarde são descobertos.

Os sites de pornografia infantil e os compartilhamentos de imagens por pedófilos também, porque existem divisões especiais da Polícia federal e de diversas Polícias dos países que rastreiam todas as movimentações que fazemos na Internet, viu?

As investigações são demoradas, cautelosas, exigem paciência e persistência dos policiais e peritos, mas ‘chega lá’. E em instantes redes nacionais e internacionais de pedofilia são descobertas! Ou seja, nada fica oculto muito tempo…

O objetivo desse artigo hoje é alertar as famílias para dois perigos:

(1) a pedofilia virtual, quando fotos e vídeos dos nossos filhos, netos, sobrinhos, são parar na deep web e a mais inocente recordação da infância deles pode ser objeto de satisfação patológica de um pedófilo que a gente nem sequer imagina; (2) que a perversão sexual pode estar inclusive em pessoas em quem confiamos, depositamos a segurança dos nossos filhos, no ambiente que acreditamos ser tanto ou mais seguro que a nossa casa: a escola.

Foi o que aconteceu no último dia 19/02/2020, quando um professor de História e Teatro de uma escola de elite da zona oeste de SP teve a prisão preventiva decretada, por filmar e armazenar vídeos de alunos, com câmeras escondidas em caixas de remédios e embaixo das carteiras para filmar as pernas das alunas que usavam saias com idades entre 10 e 17 anos de idade.

Professores, treinadores esportivos, líderes religiosos, se aproveitam da carência afetiva de crianças/adolescentes (por exemplo, carência da figura paterna) e da relação de poder e confiança que as famílias depositam neles, para abusarem sexualmente de suas vítimas.

O professor acusado, preso na Operação “Luz da Infância” que investiga pedofilia virtual em diversos estados brasileiros, declarou à polícia que “era doente e precisava de ajuda”. Temos nessa frase duas implicações importantes:

  1. Por vezes, episódios como esse precisam efetivamente ser descobertos porque é a forma de que o agente (a pessoa que praticou o ato criminoso) obtenha a ajuda necessária. Por vezes é um pedido, consciente ou não, e o fato de ser ‘descoberto’ é a forma de evidenciar esse pedido de ajuda;
  2. Sabemos também que esse argumento é uma forma muito comum de se livrar da imputação criminal: alegar insanidade para ser tratado e não ir para a cadeia, porque na cadeia há uma espécie de ‘código de honra’ entre criminosos, que cometem todos os tipos de delitos gravíssimos, mas não admitem pedófilos, agressores de mulheres, idosos, crianças e até animais, porque são sodomizados e até assassinados dentro da cadeia.

Só uma avaliação psicológica e psiquiátrica adequada vai esclarecer a questão.

Como proteger?

O que nós, pais, familiares, professores e profissionais podemos fazer para proteger nossos filhos desse tipo de situação?

  1. Orientar e conversar com as crianças e adolescentes sobre a sexualidade, e os cuidados com o corpo: quem pode (ou não pode) ver ou tocar no corpo, como se comportar no banheiro público, vestiário esportivo, etc. Se houver alguma situação incômoda, deve ser notificado aos professores, pais, direção.
  2. Conhecer bem a índole dos professores que são contratados nas escolas. Sabemos que muitas escolas e faculdades contratam professores ‘por indicação’ (o chamado “Q.I., quem indica”) mas parece que esse não pode ser um critério suficiente para admitir ao quadro docente. Entrevistas e avaliação psicológica qualificada podem ser ferramentas úteis na seleção de docentes de escolas e faculdades.
  3. Que as famílias tenham uma rede de assistência e proteção integrada, com atendimento especializado para dar orientação e suporte diante do sofrimento e traumas vivenciados. A obrigatoriedade de serviços de Psicologia e Serviço Social na rede fundamental de ensino pode ser extremamente útil também para esses casos. Por vezes, pode orientar as famílias a realizarem serviços de mediação e justiça restaurativa, conversando com o(a) agressor(a) para minimizar as adversidades.

É isso, no momento. Que seja um alerta aos pais, familiares, professores e profissionais que atendem as famílias de quais as medidas de proteção podemos oferecer às nossas crianças e adolescentes.

Para que não ocorram mais e não tragam mais prejuízos à nossa juventude, que já traz muitas cicatrizes de outras violências sociais deste século que preocupam os cuidadores.

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Que este artigo traga importantes reflexões sobre os males da nossa sociedade e o que podemos fazer para ajudar nossas crianças e a nós mesmos.

Nos vemos nos próximos artigos ok?

Referências Bibliográficas:

REDAÇÃO CARTACA LIVRE. Vídeos mostram como agia o professor preso acusado de pedofilia em SP. São Paulo, 24/02/2020. Disponível em: https://catracalivre.com.br/cidadania/videos-mostram-como-agia-o-professor-preso-acusado-de-pedofilia-em-sp/.

REDAÇÃO VEJA SÃO PAULO. Professor de colégio de elite acusado de pedofilia tem prisão decretada. São Paulo, 19/02/2020. Disponível em: https://vejasp.abril.com.br/cidades/professor-colegio-st-nicholas-pedofilia-pinheiros/.

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Sobre o autor(a)

Denise M. Perissini

Denise M. Perissini

Psicóloga clínica e jurídica. Coordenadora da Pós Graduação em Psicologia Jurídica na UNISA e professora na UNISÃOPAULO. Autora de livros e artigos de Psicologia Jurídica de Família.
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