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Quarentena: O que fica de lição para nós?

Será que essas mudanças do convívio familiar são imediatistas ou voltaremos aos nossos ‘mundinhos’ ?
Quarentena O que fica de lição para nós

Olá a todos, espero que todos estejam se cuidando, saudáveis e com esperança de que toda essa situação vai passar…

Sim, vai passar, e gostaria de saber em que condições estaremos quando isso passar…

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Sem dúvida, essa pandemia trouxe transformações em todos os setores: economia, educação, saúde (principalmente!), relações familiares, relações de trabalho.

Vamos ver o que isso fica de lição para nós

Honestamente, quando eu comparei, em outro artigo, a atual situação de pandemia do coronavírus e isolamento social com a situação da II Guerra Mundial, eu imaginava que as sociedades em geral – e aqui vou enfocar especificamente a brasileira – fosse vivenciar o caos, conflitos sociais, escalada da violência na luta pela sobrevivência.

Como na Guerra na Europa, se agredia ou matava qualquer um por um pedaço de pão, parecido com a cena do filme ‘O Pianista’, quando uma simpática senhorinha tentava voltar para casa com uma panela cheia de arroz e foi brutalmente agredida.

Aqui, como em diversas partes do mundo, os sentimentos de solidariedade me surpreenderam.

Obviamente, a ‘solidariedade’ governamental nem sempre é espontânea, como em diversos municípios que “tiveram que” regularizar abastecimento de água, reformular sistemas de limpeza pública.

Ou simplesmente instalar pias e bebedouros, ou ampliou as vagas em abrigos aos moradores de rua para que a população pudesse se higienizar nesse período de pandemia, como (finalmente!) decidiu a Prefeitura de SP.

Minha pergunta é: se o Poder Público (em quaisquer de suas instâncias federal, estadual ou municipal) tinha condições de fazer isso, por que não o fez antes?

Por que abandonou a população desfavorecida durante anos (ou décadas) e só agora, diante de uma situação extrema, ‘decide’ tomar uma providência para beneficiar as pessoas?

Quantos ‘milagres’ acontecem em ano eleitoral, hein?

E ainda assim muita coisa ainda precisaria ser feita: o Poder Público parar de protelar a reativação de hospitais desativados há muitos anos, como o Hospital Santa Marta, e o Hospital São Leopoldo, na região de Santo Amaro (zona sul de SP).

Entre tantos por aí afora, que poderiam oferecer leitos e equipamentos para pacientes de baixa e média complexidade do COVID-19 e que, quando essa pandemia passar (vai passar!…), voltariam a atender normalmente a população, já tão carente de ver o dinheiro público sendo efetivamente utilizado em coisas úteis, e não em super salários de parlamentares insensíveis às necessidades da população.

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Sucessivos governos sucatearam o SUS, negligenciaram a necessidade de valorização e respeito aos profissionais desse importante sistema de saúde, chegando ao desatino de cortar injustificadamente verbas de pesquisa.

E agora exigem que o SUS preste serviço de qualidade sem remunerar dignamente os profissionais, sem oferecer os insumos e condições necessárias, ainda com pessoas sendo atendidas em macas ou no chão de corredores.

Mulheres tendo filhos nas calçadas por falta de vagas nas maternidades públicas, hospitais que não têm sequer seringas e esparadrapos; regiões desfavorecidas que não têm sequer um aparelho de mamografia, ou está quebrado há anos!

Grandes fábricas tiveram que interromper seu fluxo de produção (e, consequentemente, sua margem de lucro) e se voltaram a colaborar para produção e/ou conserto de respiradores mecânicos para os hospitais.

Unidades prisionais deslocaram os internos para produzirem máscaras cirúrgicas e aventais para os profissionais que estão lidando diretamente com os pacientes infectados.

Psicólogos estão se mobilizando para atender voluntariamente, ou a baixo custo, pessoas que estejam sentindo aflições em decorrência da quarentena, ou que tenham parentes entre os infectados.

Gostaria de pensar que essa preocupação com o ser humano não seja somente durante esse período, mas sim um elemento contínuo.

Logicamente a indústria vai voltar a recuperar sua produção, mas se lembrará do próximo ‘de vez em quando’?

Destinará uma parte do seu efetivo para continuar auxiliando os hospitais, produzindo e/ou consertando equipamentos médicos?

O comércio também ‘se reinventou’, começou a vender seus produtos online e/ou a preços reduzidos, e em alguns casos, até doando para populações carentes (ex.: ovos de Páscoa).

Será que, quando tudo isso passar, essa atitude vai ser mantida?

E nas famílias?

O período de pandemia está sendo um desafio para as famílias – adaptação de rotina em decorrência do homeschooling improvisado e repentino, que nem os pais, as crianças e os professores estavam preparados.

E já falei em outros artigos sobre as transformações na convivência dos pais separados com seus filhos:

  • a regulamentação de visitas suspensas, as adaptações à questão da Guarda Compartilhada;
  • a necessidade (ou obrigação) do(a) guardião(ã) em permitir que o(a) outro(a) genitor tenha contatos telefônicos ou por mídias com a criança para que não se caracterize Alienação Parental (sujeita às sanções impostas pela Lei nº 12.318/2010, além de ações cíveis e criminais cabíveis).

Em alguns casos extremos, o rearranjo é surpreendente: casais separados voltaram a morar juntos, para poderem permanecer próximos dos filhos e não ficarem isolados durante a quarentena.

Claro que existem muitos fatores envolvidos, como ter sido uma separação ‘civilizada’, ou já estarem acostumados um com o outro, ou quando as crianças são muito pequenas ou uma esperança de futura reconciliação.

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De qualquer forma, há a necessidade de estabelecerem diálogos e ‘combinados’, com regras claras, acerca dos papeis, responsabilidades e limites de cada um, para não haver ilusões não somente entre o ex-casal como para os filhos.

Obviamente, os filhos desejam que os pais voltem a morar juntos quando não há violência ou perda de confiança, mas é preciso que eles estejam cientes de que a decisão dos pais de continuarem morando juntos durante esse período de quarentena não implica, necessariamente, na reconciliação.

Pode ocorrer, se houver conscientização de ambos da necessidade de auxílio mútuo e solidariedade para enfrentarem juntos essa pandemia, mas não é um resultado determinado.

Quero pensar que, em havendo intenções genuínas em manterem a convivência conjugal, que não seja apenas por causa da quarentena, e sim como uma atitude de respeito ao(à) ex-conjuge e aos filhos.

Ou que decidam pela separação definitiva, que seja vivenciada com amadurecimento e responsabilidade, conscientes do tipo de modelos que serão para os filhos.

Por outro lado, enquanto o Ocidente vive uma situação de confinamento (quase) claustrofóbico como medida de contenção da disseminação do COVID-19, na China aumentou o número de divórcios de casais que não suportaram a convivência contínua.

Os cartórios e escritórios de advogados de família de algumas províncias chinesas bateram recordes de atendimento, não havia mais horários disponíveis.

Ainda é cedo para pensarmos nas hipóteses ou explicações desse fenômeno, porque existem fatores culturais, socioeconômicos, políticos, etc.

Mas minha especulação é que seja um movimento de independência e autonomia das mulheres em não permanecerem em relações que não lhe façam mais sentido e a convivência em confinamento forçado as faça perceber isso.

Enfim, o ser humano continua a ser surpreendente.

E é isso o que o torna fascinante. São “as dores e as delícias” de sermos o que somos.

E precisou de um ser microscópico e desconhecido que surgiu repentinamente para nos fazermos reformular nossas vidas, nossas rotinas, reavaliarmos nosso sistema de valores, prestarmos mais atenção no próximo do que nos nossos ‘umbigos’.

Acompanharmos mais de perto os estudos dos filhos e prestigiarmos a companhia deles.

Gostaria de me perguntar se essas mudanças serão apenas imediatistas ou se quando tudo isso passar (e vai passar!…), voltaremos aos nossos ‘mundinhos’ ou efetivamente vamos também nos dedicar aos mais frágeis e vulneráveis, em casa e na sociedade.

Quem seremos, quando tudo isso passar?

Com quem (ou com o quê) nos importaremos ou valorizaremos, quando tudo isso passar?

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Como será o nosso dia daqui em diante, quando tudo isso passar?

É isso, espero que tenham apreciado o artigo, e que ele traga importantes reflexões.

Até o próximo!
Cuidem-se!

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Sobre o autor(a)

Denise M. Perissini

Denise M. Perissini

Psicóloga clínica e jurídica. Coordenadora da Pós Graduação em Psicologia Jurídica na UNISA e professora na UNISÃOPAULO. Autora de livros e artigos de Psicologia Jurídica de Família.
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