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Privação do sono na maternidade

Saiba mais sobre a privação do sono materno após o parto e as mudanças na qualidade do sono nessa fase.
Privação do sono na maternidade

Imaginem o cenário, sentada aguardando uma consulta com o ginecologista. Olhei ao meu redor, várias mulheres grávidas. Umas tinham as barrigas bem redondas outras nem tanto, percebi algo semelhante entre elas.

Embora cada uma fossem diferentes esteticamente, ambas tinham o mesmo comportamento, estavam com as suas mãos acariciando a barriga.

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Pensei, que incrível essa conexão que se estabelece antes mesmo do nascimento o poder das mãos que acolhem a ternura desse momento.

Mas, de repente meus devaneios foram interrompidos. Meus ouvidos captaram uma fala, que me despertou o interesse:

– Quantas semanas de gestação você está?
– 37 semanas
– Nossa!
– Está chegando o momento.
– Eu não vejo a hora de tê-lo em meus braços, conhecer seu rosto, sentir o seu cheiro, sonho com esse momento.
– Está perto de você viver tudo isso, mas quer um conselho?
– Sim.
– Descanse agora, por que depois que ele ou ela nascer acabou sono.
– Verdade, aí meu Deus gosto tanto de dormir.
– Como assim pensei?
– Você se torna mãe, e logo é avisada que não vai mais dormir?”

Privação do sono na maternidade
Freepik

Achei aquela fala de certa forma inapropriada, me causou um incômodo. Entendi que naquele momento eu deveria estudar mais sobre a maternidade e todos os fatores que acompanham esse novo momento.

A mulher deve ser acolhida e atendida nesse período de tantas transformações internas e externas e não ser aterrorizada! Era preciso compreender o porquê de tantas pessoas alertarem sobre a privação de sono materno após nascimento.

As privações do sono a longo prazo podem trazer consequências danosas tanto para as crianças como também para mães, consequentemente causa problemas físicos, afetar saúde mental e a relação familiar.

O sono é um processo ativo do cérebro do nosso corpo. Durante o sono é liberado o hormônio do crescimento (GH) que favorece a manutenção dos tônus, evita o acúmulo de gordura fortalecendo os ossos, resultando em maior disposição entre outros fatores que contribuem para o bem-estar delas.

Quando a criança tem um sono de qualidade ela cresce e recupera as energias.

Quando o sono não é de qualidade, os efeitos são danosos tanto para crianças como também para seu entorno, principalmente para as mães.


“…Nas crianças as alterações da falta de um sono adequado podem atrapalhar seu desenvolvimento…”


As noites mal dormidas já foram associadas várias vezes a consequências adversas para os adultos. Em relação aos aspectos físicos aumenta o risco de obesidade, eleva a probabilidade de vir a ter uma doença coronária.

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Já foi comprovado também que há prejuízos na saúde mental, pois há a diminuição da capacidade de atenção e concentração, déficit de memória e depressão.

Nas crianças as alterações da falta de um sono adequado podem atrapalhar seu desenvolvimento, alterar o seu humor, tendendo a chorarem com maior frequência.

Elas ficam mais cansadas durante o dia, interfere nas sonecas diurnas, prejudicando nas brincadeiras e até no aprendizado.

Todos nós precisamos dormir, cada vez mais a privação do sono vem ganhando notoriedade principalmente na maternidade.

Um estudo publicado na Revista Cientifica Sleep evidenciou que, depois do nascimento do primeiro filho os pais podem demorar até seis anos para recuperar a qualidade e as horas de sono que dormiam antes do parto.

A privação de sono tem seu maior pico nos três primeiros meses após o parto, que é o período de Exterogestação.

De acordo com o antropólogo Ashley Montagu, os primeiros três meses após o parto são essenciais para que o bebê continue seu desenvolvimento como parte da gestação, exceto pelo fato de que ocorreria fora do útero (exterogestação).

Segundo o autor com a evolução da espécie humana para a marcha bípede (sobre duas patas), o osso da bacia feminina ficou mais estreito e os bebês passaram a nascer cada vez mais cedo antes do tempo, portanto “prematuros”.

Por esse motivo, os bebês são muito mais dependentes dos cuidados maternos e paternos para a sua sobrevivência.

Os desenvolvimentos dos bebês são lentos até conquistarem a capacidade de se locomoverem e alimentarem sozinhos ou, pelo menos, até conseguirem manter um padrão de sono e alimentação mais semelhantes a vida adulta.

Outro fator que contribui para sono irregular tanto dos bebês como também dos pais é que, nestes primeiros três meses de vida do bebê o ritmo circadiano (compreende o período de aproximadamente 24 horas que norteia o nosso relógio biológico e é regido principalmente pela variação de luz, temperatura, marés e ventos entre o dia e a noite), não estão estabelecidos.

Os bebês até os três primeiros meses de vida, têm o ritmo ultradiano (um ciclo mais curto e com uma frequência maior, significa que os bebês não sabem diferenciar o quando é dia e quando é noite), por esses motivos despertam com maior frequência em horários irregulares.

Privação do sono na maternidade
Freepik

Outro aspecto que contribui para os despertares irregulares, está relacionado a amamentação nos primeiros meses, é normal que a criança mame com maior frequência e sem horários regulares.


“…Nos primeiros três meses pós-parto as mães perdem, em média, uma hora de sono por noite…”


Em geral um bebê em livre demanda mama de oito a 12 vezes ao dia. Existem muitos fatores que nos diferenciam do ritmo dos nossos filhos.

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Nós adultos somos regidos pelo ritmo circadiano e os nossos filhos neste período que compreende a exterogestação até três meses de vida são regidos pelo o ritmo ultradiano.

Esses são alguns dos motivos que contribuem para privação do sono nestes primeiros meses para quem acaba ter filhos.

Uma pesquisa coordenada pela Universidade de Warwick, no Reino Unido, publicado pela Revista Cientifica Sleep, concluiu que a satisfação e a duração do sono diminuem acentuadamente com o nascimento e atingem o seu mínimo durante os primeiros três meses após o parto.

As mulheres foram as mais afetadas, mas verificou-se que tanto a satisfação como a duração do sono do casal não se recuperaram totalmente, mesmo quando os seus filhos atingem a idade pré-escolar.

Nos primeiros três meses pós-parto as mães perdem, em média, uma hora de sono por noite.


“…Já os pais perderam apenas 15 minutos de sono por noite…”


Embora esse tempo seja recuperado em parte (em média 40 minutos a mais) após um ano, a qualidade e duração do sono nunca voltam a ser as mesmas.

Já os pais perderam apenas 15 minutos de sono por noite. Os efeitos nas noites de sono são também mais evidentes nos pais pela primeira vez, em comparação com os pais mais experientes, ressalta esse estudo.

A sociedade deve buscar compreender melhor os impactos que a privação de sono tem no pós-parto, para assim contribuir com essa mulher no sentido de promover ações que possam ser efetivas.

É certo que, o sono principalmente da mãe não será mais o mesmo que antes, mais não significa que “não terá mais um sono de qualidade”, é muito sério fazermos essa afirmação.


“…Muitas vezes queremos dar conta sozinhas de todas as demandas que a maternidade nos traz…”


Existem várias intervenções que podem auxiliar neste período como: ter uma boa rede de apoio é fundamental, organizar o ambiente (higiene do sono), rever a sua rotina e fazer adaptações sempre que necessário.

Muitas vezes queremos dar conta sozinhas de todas as demandas que a maternidade nos traz. Tem pessoas que conseguem, já tem outras que não.

Independente do caminho que vocês estejam trilhando, sempre é melhor compartilhar o que sentimos e revisitarmos os nossos comportamento e atitudes.

A maternidade é real, assim como a privação do sono também. Não hesite em buscar orientação de um profissional.

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Não espere estar no seu limite, sempre existirá um caminho e uma intervenção a fazer, que contribua para o seu bem-estar e do seu filho estendendo até a sua família.

Precisamos falar mais sobre privação do sono materno infantil, antes, durante e depois nascimento.

“Refletir sobre puerpério é levar em conta situações que, às vezes, não são nem tão físicas, nem tão visíveis, nem tão concretas, mas que nem por isso são menos reais”.

(Laura Gutman).

Por uma sociedade que sinta e apoie mais.

Referências Bibliográficas:

www.sleepfoundation.org/articles/children-and-sleep

academic.oup.com/sleep/advance-article/doi/10.1093/sleep/zsz233 /5573929

www.t4h.com.br/noticias/revista-cientifica-sleep-science/

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Sobre o autor(a)

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Michelle Correa

Olá, eu sou Michelle Corrêa Psicóloga, Doula, Consultora do sono materno infantil e familiar e Instrutora de Massagem para bebê Shantala.
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