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Babu e a negritude que não pode errar

No BBB 20 têm surgido diversas polêmicas que denunciam mazelas sociais como o racismo e o preconceito vivenciados pelos participantes Babu e Thelma.
Babu e a negritude que não pode errar

“Luz, camêra e ação! Gravando e a cena vai…”

A célebre música “Negro Drama”, dos Racionais Mc’s, encontrou na vigésima edição do Big Brother Brasil mais uma perfeita personificação.

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A pessoa em questão é Alexandre da Silva Santana, mais conhecido como Babu, premiado ator e cantor cujo papel de maior destaque foi no filme Tim Maia, no qual interpretou o icônico músico que dá nome ao longa metragem.

Infelizmente, vemos em Babu mais um exemplo de um talentoso artista negro esquecido pela grande mídia, tal como Zezé Motta e a saudosa Ruth de Souza.

Sua participação no reality show BBB é uma oportunidade de estar novamente em evidência e, talvez, ser premiado como vencedor do programa, podendo quitar suas dívidas.

É inevitável pensar sobre como seria a reação de boa parte dos telespectadores se algum famoso ator branco estivesse na mesma condição.

Imagine Bruno Gagliasso, Thiago Lacerda ou Murilo Benício participando do programa para conseguirem ser lembrados pela mídia e serem chamados para novos trabalhos.

Certamente, a comoção seria muito maior do grande público.

Basta lembrarmos do “mendigo gato”, que gerou enorme mobilização de internautas e programas de auditório para que pudesse sair das ruas.

Não que não devesse gerar comoção, mas é interessante notar que um indivíduo com características físicas bem próximas das consideradas como o ideal de beleza gere tamanha mobilização, enquanto outras pessoas, majoritariamente negras, nas mesmas condições não são notadas. Afinal, já diziam os Racionais Mc’s “Me ver pobre, preso ou morto já é cultural”.

Nesses dias em que esteve confinado na casa, Babu protagonizou diversas polêmicas. Verdade seja dita, ele adotou muitas condutas machistas e homofóbicas. Não podemos negar. Ainda assim, passou por muitas situações de racismo.

Acompanho com frequência as discussões sobre o BBBreality show nas redes sociais. Sempre que uma cena de racismo direcionado ao ator é mostrada, um sem número de comentários surge para lembrar das falas preconceituosas que ele teve.

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Mais uma vez, ressalto que Babu foi infeliz em algumas oportunidades, mas chama-me a atenção a tentativa de lembrar os erros dele para amenizar o racismo que sofre.

Como se não pudesse reclamar de ser alvo de preconceito por também reproduzi-lo. Faz sentido? Faria, se o mesmo rigor fosse aplicado para pessoas brancas.

Nessa edição do programa, assistimos a um festival de falas preconceituosas da chamada comunidade hippie.

Quando esses comportamentos são apontados, não faltam pessoas para relativizar, dizendo que somos radicais por chamá-los de racistas ou, ainda, que as pessoas negras da casa que optaram por se excluir.

O pacto narcísico da branquitude é extremamente eficaz. Se dizem antirracistas, mas minimizam as atitudes racistas de seus semelhantes, especialmente quando esses são amigos ou familiares.

Mesmo quando reconhecem seus erros, basta um pedido de desculpas para que uma borracha seja passada e tudo esquecido. Para nós, pessoas negras, essa opção não existe.

Há alguns anos, o jornalista William Waack, então apresentador do Jornal da Globo, fez um comentário racista em seu programa.

Desligado da emissora, foi defendido por muitas pessoas nas redes sociais, que consideravam a conduta exagerada. Atualmente, o jornalista trabalha na emissora CNN Brasil. Seu comentário infeliz não o impediu de ter uma nova oportunidade em um grande veículo de comunicação.

Podemos citar, também, o apresentador Boris Casoy e o famoso comentário pejorativo dirigido aos garis.

O pedido de desculpas feito na edição seguinte do jornal que apresentava não o livrou de alguns processos, mas foi amplamente utilizado como argumento de defesa para amenizar sua fala elitista e justificar sua permanência no programa.

Outra vez, uma atitude preconceituosa de uma pessoa branca não foi capaz de prejudicar sua carreira. Imagine se os mesmos equívocos fossem cometidos pela Maju?

Vimos toda a repercussão que os supostos erros de português da apresentadora causaram. Será que, caso fizesse um comentário preconceituoso, ainda estaria trabalhando em uma grande emissora? Certamente não.

Sinto necessidade de escurecer que não estou defendendo o linchamento virtual tampouco o “cancelamento”.

Apenas demonstrando como os erros cometidos por pessoas brancas são sempre passíveis de perdão, o que não ocorre com pessoas negras. A atual edição do Big Brother está mostrando isso de maneira didática.

Poderíamos lembrar outras situações, como Barbosa, goleiro da seleção brasileira na copa do mundo de 1950, que passou o resto de sua vida sendo apontado como o responsável pela perda do título.

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Em uma de suas mais famosas entrevistas, dizia que a pena máxima no Brasil para um criminoso era de trinta anos, mas ele estava sendo punido há quatro décadas por um crime não cometido.

No campo da política, temos o ex-prefeito Celso Pitta, negro e já falecido. Seu governo foi marcado por escolhas equivocadas.

Sua péssima gestão o levou a ter uma das mais altas taxas de reprovação dos paulistanos. Não há como negar que seu mandato foi ruim.

Além disso, os escândalos fora do âmbito político colaboraram para que não fosse eleito novamente.

Por outro lado, não podemos esquecer nomes como Aécio Neves e Fernando Collor (só para citar alguns), políticos brancos que tiveram novas oportunidades mesmo envolvidos em escândalos e/ou terem governos mal avaliados.

Como disse anteriormente, etnia é um fator preponderante para decidir se um indivíduo cometeu apenas um deslize ou se deve ser esquecido.

Enfim, espero que Babu consiga ao menos ser um dos finalistas dessa edição e que reflita sobre os comentários preconceituosos que teve.

Acima de tudo, desejo que o ator compreenda que, por mais que sofra preconceitos de maneira explícita e velada, sempre vai ser “aquele louco que não pode errar”, como dizem os Racionais.

Todo e qualquer equívoco que cometer vai ser utilizado para encobrir suas virtudes e justificar o racismo que sofre.

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Sobre o autor(a)

Rodrigo Xavier Franc

Rodrigo Xavier Franc

Graduado em Psicologia, ampla vivência com pessoas em situação de rua e dependentes químicos. Atualmente realizo atendimento clínico nos bairros de Santana e Higienópolis.
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