O Que São Altas Habilidades ou Superdotação?
Altas habilidades ou superdotação são características de indivíduos que apresentam um desempenho significativamente superior em áreas como raciocínio lógico, criatividade, liderança ou habilidades artísticas.
O conceito de superdotação remonta a estudos iniciais do psicólogo Lewis Terman, na década de 1920, que investigou crianças com altos níveis de inteligência.
No entanto, ao longo dos anos, a visão sobre altas habilidades evoluiu muito, indo além do QI e incorporando a compreensão das múltiplas inteligências e do potencial criativo.
Mitos e Realidades Sobre a Superdotação
Enquanto a sociedade frequentemente romantiza a superdotação, associando-a ao sucesso garantido ou a uma vida de realizações fáceis, a realidade costuma ser muito mais complexa.
Muitos indivíduos com altas habilidades enfrentam dificuldades emocionais e sociais, sentindo-se constantemente pressionados a corresponder às expectativas de um “potencial” que talvez nunca se concretize.
Essa constante cobrança pode gerar um profundo sentimento de frustração, tornando-os “eternos potenciais desperdiçados”, uma narrativa que cria um peso imenso sobre seus ombros.
Características de Pessoas com Altas Habilidades
Pessoas com altas habilidades ou superdotação frequentemente exibem uma combinação de características notáveis que podem se manifestar em diversas áreas.
Elas são capazes de entender conceitos complexos em um curto período de tempo e, muitas vezes, resolvem problemas que os outros consideram desafiadores de maneira rápida e intuitiva.
Apresentam uma memória aguçada, lembrando-se de detalhes que passaram despercebidos para a maioria das pessoas, e são capazes de reter informações e fatos por longos períodos, o que muitas vezes surpreende quem está ao redor.
Muitos indivíduos superdotados têm uma capacidade natural de realizar multitarefas, mantendo o foco em várias atividades ao mesmo tempo sem perder a qualidade do que estão fazendo.
Sentem uma necessidade intensa de aprender coisas novas constantemente, buscando sempre novas informações e se aprofundando em temas de seu interesse de forma autodidata.
Quando algo lhes desperta interesse, podem se aprofundar de forma intensa, dedicando horas a fio para entender todos os aspectos daquele assunto, exibindo uma paixão que muitas vezes impressiona.
Além disso, possuem uma capacidade incomum de conectar ideias de maneira original, criando soluções únicas para problemas que podem parecer sem saída para outros.
TDAH e Altas Habilidades: A Dupla Excepcionalidade
Essas características podem ser identificadas na infância ou ao longo da vida adulta, dependendo do ambiente e das oportunidades que a pessoa teve para expressar suas habilidades.
No entanto, é importante destacar que essas características também podem ser acompanhadas de desafios significativos, especialmente quando coexistem com o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH).
O TDAH é um distúrbio do neurodesenvolvimento caracterizado por sintomas de desatenção, hiperatividade e impulsividade.
Quando uma pessoa apresenta tanto TDAH quanto altas habilidades, isso cria um cenário conhecido como “dupla excepcionalidade”.
Esse termo descreve indivíduos que possuem características que, por vezes, parecem contraditórias.
Ao mesmo tempo que apresentam habilidades notáveis, enfrentam dificuldades significativas para se concentrar ou manter uma rotina de estudos estruturada.
Como o Cérebro com TDAH e Superdotação Funciona?
Para entender a mente de alguém com TDAH e altas habilidades, é essencial visualizar um cérebro em constante movimento. Imagine uma rodovia com inúmeros acessos e desvios.
Para uma pessoa com TDAH, a atenção frequentemente é desviada por esses acessos, um estímulo interessante aqui, uma ideia criativa ali.
Agora, quando esse mesmo cérebro possui também altas habilidades, esses desvios se tornam ainda mais complexos.
Cada ideia que surge é mais intensa, cada curiosidade é mais profunda, e o desejo por entender e explorar é quase insaciável.
Diagnóstico e Identificação da Dupla Excepcionalidade
Uma das dificuldades mais comuns para essas pessoas é o diagnóstico.
Altas habilidades podem mascarar o TDAH, fazendo com que os sintomas de desatenção ou hiperatividade sejam erroneamente interpretados como falta de disciplina ou preguiça.
Da mesma forma, o TDAH pode ofuscar as altas habilidades, levando a uma subestimação do potencial do indivíduo.
Dessa forma, a identificação correta de ambas as condições é frequentemente dificultada por essa superposição de características.
Impactos Emocionais e Sociais
Muitos acreditam que altas habilidades estão associadas exclusivamente a um QI elevado.
Esse é um dos maiores mitos que cercam a superdotação.
A verdade é que altas habilidades se manifestam de formas variadas e nem sempre estão ligadas a uma pontuação específica em um teste de inteligência.
A criatividade, a capacidade de resolver problemas complexos, o senso de liderança e a empatia também são componentes fundamentais. Essa simplificação pode agravar problemas emocionais.
Uma criança superdotada e com TDAH pode, desde cedo, sentir-se incompreendida e isolada.
Por um lado, ela é vista como “inteligente demais para ter dificuldades”; por outro, enfrenta diariamente desafios como procrastinação, baixa tolerância à frustração e impulsividade.
Esses fatores podem levar a transtornos de ansiedade e depressão, especialmente na adolescência, quando as demandas acadêmicas e sociais aumentam.
Estratégias para Apoiar a Dupla Excepcionalidade
Muitas vezes, o tratamento se concentra apenas nos sintomas isolados, como a ansiedade ou a hiperatividade, sem abordar as causas mais profundas, o que resulta em um alívio paliativo.
É importante que os tratamentos sejam integrados e considerem toda a complexidade do indivíduo, respeitando suas forças e suas vulnerabilidades.
Uma das principais estratégias é a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC), que pode ser extremamente útil para ajudar o indivíduo a reconhecer padrões de pensamento negativos e desenvolver estratégias para lidar com as dificuldades de atenção e organização.
Essa abordagem também auxilia no controle da ansiedade e no aumento da autoestima, que muitas vezes são afetadas em pessoas com dupla excepcionalidade.
Conclusão: Valorizando a Singularidade
A coexistência de TDAH e altas habilidades pode ser tanto uma bênção quanto uma fonte de sofrimento, caso não seja bem compreendida e manejada. É essencial que pais, professores e profissionais de saúde compreendam a complexidade envolvida e ofereçam apoio não apenas para os desafios acadêmicos, mas também para os aspectos emocionais e sociais do indivíduo.
Essas pessoas não precisam ser vistas apenas como “gênios incompreendidos” ou “potenciais desperdiçados”.
Elas são, antes de tudo, seres humanos com uma gama vasta de sentimentos, sonhos e medos.
Um apoio adequado, que valorize suas forças e reconheça suas dificuldades, é o caminho para que possam viver de forma plena, expressando todo o seu potencial, sem se sentirem sufocadas pelas expectativas ou pelos desafios impostos por suas diferenças.
Fontes
1. Alencar, E. M. L. S., Fleith, D. S. (2001). Superdotados: Determinantes, Identificação e Desenvolvimento de Talentos. Petrópolis: Vozes.
2. Renzulli, J. S. (1986). Desenvolvimento de Talentos e Superdotação: Teoria e Prática. São Paulo: Editora Ática.
3. Antunes, C. (2008). Altas Habilidades/Superdotação: Como e Por Que Desenvolver Talentos. Campinas: Papirus.
4. Morais, M. F., & Ota, M. C. (2011). Dupla Excepcionalidade: Um olhar sobre o superdotado com TDAH. Brasília: Revista Brasileira de Educação Especial.
5. Oliveira, L. C. (2015). TDAH e Superdotação: Identificação e Intervenção. São Paulo: Edusp
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