Encontrar uma pessoa a quem se venha amar e com ela passar o resto da sua vida é sonho de vida de milhares de pessoas. Seja por romantização da sociedade de como é a vida a dois, seja por necessidade básica de afeto, o certo é que a maioria das pessoas busca o par perfeito.

O problema acontece quando nem tudo sai como o planejado e o “príncipe encantado” transforma-se em sapo ou a princesa em bruxa. Quando apenas o amor acaba, mas existe respeito, o fim não é tão doloroso, o problema é quando um dos dois sai machucado emocional, financeiro e/ou fisicamente. Estamos falando dos relacionamentos abusivos.

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Em raríssimos casos um relacionamento abusivo se mostra como problemático já no início do relacionamento, normalmente demora-se alguns dias, meses ou até mesmo anos para que a vítima perceba que algo não está normal.

Normalmente o vilão (ou a vilã) de um relacionamento abusivo possui traços de narcisismo (narcisistas são pessoas que não conseguem ter empatia, vê o outro como mero objeto dos seus desejos).

Para eles as emoções pode até ser entendidas, mas não internalizadas. Eles entendem o que é tristeza, arrependimento, amor e etc., mas eles são incapazes de senti-los.

Via de regra, a vítima de um relacionamento abusivo passa por três fases, a idealização (ou lua de mel) a desvalorização (o abuso propriamente dito) e finalmente o descarte (o fim do relacionamento). Essas fases podem acontecer uma de cada vez ou varias vezes em um curto período.

Na fase de idealização o narcisista é tão perfeito, tão “encantador” que conquista a vítima e se torna tudo o que ela deseja e necessita, nessa fase é comum o isolamento social, pois o narcisista se torna tudo o que a vítima precisa e carinhosamente de forma muito planejada e perversa o narcisista afasta a vítima de amigos, familiares e toda rede de apoio possível.

Depois de conquistada inicia-se sobre a vítima a fase de desvalorização, nessa fase a vítima é desvalorizada pelo agressor, desde o corpo (engordou, emagreceu, envelheceu etc), o intelecto (burra, incapaz, idiota) e até ações (“nada do que você faz presta”) nessa fase é comum agressões físicas e verbais.

A vítima se culpa por tudo e devido ao isolamento a que se permitiu ficar ela não consegue se livrar daquele narcisista por acreditar que se ela for “uma boa pessoa” o narcisista volta a ser o “príncipe encantado” do início do relacionamento.

Se, por algum motivo, a vítima de um relacionamento abusivo tentar sair do relacionamento antes que o narcisista se canse dela, suscitará nele o ódio e frustração.

Lembre-se que tudo é muito bem planejado e depende de tempo, paciência e dedicação, portanto caso a vítima termine o relacionamento o narcisista fará tudo a seu alcance para reconquista-la e assim reiniciará o circulo vicioso de idealização (lua de mel) e desvalorização (para possibilitar a manipulação).

Se a vítima se recusar a voltar para o narcisista ele é capaz de muitas loucuras e se sujeita a humilhações e declarações glamourosas, presentes caros e esplendorosos para provar o “seu amor”, mas, caso nada disso surta efeito então a vítima corre sérios risco, de vida inclusive.

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É nessa fase que vemos as estatísticas crescendo em números de mulheres que perdem a vida logo após ter pedido o divórcio (ou fim do namoro) e até dois anos depois.

Depois de tão desvalorizada, caso persista no relacionamento, a vítima torna-se um ser com a autoestima tão baixa, fazendo tudo o que o narcisista, deseja sem que lhe demande mais nenhum esforço, sem necessidade de conquistar que perde “o encanto” e o narcisista perde o interesse na última fase: o descarte.

Na fase de descarte a vítima fica desesperada, porque ela tem a certeza que não pode viver sem o narcisista. Agora ela já não sabe mais do que gosta de vestir, que tipo de música gosta de ouvir e na maioria das vezes já não tem nem amigos nem familiares que lhe apoiem. E assim que se instala a Síndrome de Estocolmo.

VOCÊ JÁ OUVIU FALAR EM SÍNDROME DE ESTOCOLMO?

Síndrome de Estocolmo é o estado psicológico particular da vítima que passa por um período de humilhações, violência e intimidações por tempo prolongado e com o passar dos dias ela começa a ter sentimentos positivos relacionados a seu agressor.

A Síndrome de Estocolmo recebeu esse nome dado pelo psicólogo Nils Bejerot após um famoso assalto a banco na cidade de Estocolmo na Suécia que durou cinco dias.

Bejerot observou um comportamento curioso entre os sobreviventes: eles defendiam o agressor, o considerava uma figura admirável e algumas vítimas relatavam sentir-se enamoradas por seus algozes mesmo dias após serem libertos do cativeiro.

É um consenso entre os psicólogos e psiquiatras que estudam o comportamento que algumas vítimas de abusos possam desenvolver sentimentos afetivos como um mecanismo de defesa* desejando inconscientemente que seu abusador possa amenizar os abusos ou mesmo reconhecer o seu amor e parar com as agressões.

Se o mais sublime e valioso que possuímos é o amor é como se a vítima pensasse “se eu presentear meu agressor com amor talvez ele se agrade de mim e diminua a agressão ou mesmo poupe-me a vida.”

Essa síndrome é facilmente observada (em maior número) em mulheres vítimas de relacionamento abusivo, em crianças vítimas de maus tratos e/ou vítimas de violência prolongada. Imagine que em um contexto de violência doméstica, física, psicológica e/ou financeira a vítima muitas das vezes depende financeiramente do agressor, na grande maioria das vezes ele é o provedor da casa e dele vem o sustento da vítima, e às vezes até para seus filhos.

Nessas condições ela se sente tão indefesa, e na tentativa de amenizar os danos que o agressor lhe causa, procura meios para não suscitar a raiva no abusador. O algoz se mostra tão potente que é endeusado pela vítima que toma para si toda a culpa da violência sofrida.

Dessa forma a vítima está refém de uma personalidade com ausência de sentimentos empáticos mas com muito carisma. As pessoas do círculo social da vítima não conseguem entender que ela reclame do narcisista! Ele realmente é uma pessoa encantadora, tão carismática que muitas das vezes a vítima é desacreditada e passa até ela mesma a duvidar da sua sanidade mental.

Na próxima vez que você ouvir que uma mulher “gosta de apanhar” ou que “ele me batia, mesmo assim eu o amava” lembre-se: não é amor, é Síndrome de Estocolmo. A vítima precisa de terapia, acolhimento e compreensão, não de julgamento.

*Mecanismo de defesa, são atitudes inconscientes que fazemos para preservar nossa saúde mental ou nossa vida.

Referências Biográficas:

Síndrome de adaptación paradójica a la violencia doméstica: una propuesta teórica.
Andrés Montero Gómez. Clínica y Salud, 2001, vol. 12 nº 1, págs. 371-397

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