Assédio sexual: uma violência em forma de gracejos

Nós mulheres passamos por coisas que os homens se quer imaginam.

Provavelmente um homem não se preocupa se a camisa está aberta mais do que o normal e alguma mulher irá olhar para aquela abertura e dizer palavras obscenas.

Provavelmente em um transporte coletivo um homem não sente mulheres se esfregando nos seus corpos propositalmente.

Acredito que os homens não sentem medo de sair às ruas, com o peito á mostra, com uma roupa mais justa e acredito que não ouvem na rua sobre o tamanho de seus bumbuns, tórax ou sobre o volume escondido dentro da cueca.

Pois é, nós ouvimos, sempre, e o nome dessa violência é assédio sexual.

Segundo a OIT (Organização Internacional do Trabalho) “O assédio sexual está intrinsecamente ligado com o poder, e na maioria das vezes acontece em sociedades em que a mulher é tratada como objeto sexual e cidadãs de segunda classe.”

Pesquisas realizadas por institutos brasileiros atestam que 97% das brasileiras de norte a sul do país já foram vítimas de assédio, logo, ainda somos uma sociedade que ainda vê a mulher como cidadã de segunda classe, objeto sexual.

No consultório…

Certa vez uma adolescente vítima de estupro desabafou no consultório:

“… Imagine você andando em uma rua deserta de madrugada com um celular de última geração na mão.

Agora imagine que você é o próprio celular, sem dono andando a esmo, é o que eu sinto, sinto medo de alguém ‘pegar eu’ pra ele.”

(Relato de uma paciente)

É preciso fortalecer a discussão sobre gêneros na sociedade

Minha filha tem quinze anos, e por genética tem o corpo grande, o que muitos denominariam como “mulherão”.

Eu quis dar a ela a mesma liberdade e oportunidade que seu irmão dois anos mais velho.

Mas hoje ela chamou o irmão para ir com ela ao mercado do bairro, e insistiu muito e até barganhou com ele para que fosse junto.

Quando eu quis saber o motivo ela me revelou que saiu á rua mais cedo, estava de short jeans e camiseta larga, na rua.

Um homem parou o carro e começou a dizer palavras obscenas a ela e queria de qualquer forma que ela lhe passasse o whatsapp.

Ela precisou alegar não ter telefone, e posteriormente ter namorado para que ele a deixasse em paz.

Por último ela começou a correr para entrar logo na padaria, enquanto o agressor fazia gestos obscenos.

(Relato de uma paciente)

E isso me deixou triste, revoltada, enojada e principalmente, impotente.

Percebi que não depende exclusivamente de eu criar uma mulher empoderada, depende também de quanta violência ela esta sujeita fora do âmbito familiar…”

O fato de estar com “máscara” (devido a pandemia de coronavírus) deixou o homem ainda mais atrevido, mas isso não é de hoje.

Lembro-me com perfeição da minha primeira cantada aos onze anos de idade, eu usava saia amarela nos joelhos e camiseta da escola.

Uma sociedade machista

O simples fato de eu descrever aqui a minha roupa já revela muito sobre nós, mulheres, é uma forma de tentarmos justificar que somos inocentes, que nossa roupa não era provocativa e não merecíamos a agressão, nessa sociedade machista e preconceituosa.

Agora eu me pergunto: O que será que esses agressores pensam? Será que acreditam realmente que uma mulher gosta dessas “cantadas” baratas?

Será que realmente acreditam que elas teriam um relacionamento com eles pelo simples fato de que ELES estão a fim?

Outro fato irritante é receber fotos dos órgãos genitais sem nem ao menos conhecer a pessoa, pelo simples fato de o status de relacionamento está como “solteira” nas redes sociais, isso é irritantemente comum.

Porque você acredita que tem o direito de fazer comentários sobre o corpo de outra pessoa?

Comentários que objetificam corpos

Talvez um homem ao ler meu texto possa achar um exagero da minha parte, portanto proponho que pergunte sobre isso ás mulheres a sua volta, proponha o debate e saberá a tantas anda nossa relação com essa violência.

Aos homens que costumam praticar assédio, ou conhecem amigos que os praticam, faz um favor pra gente, responda vocês ou pergunte aos seus amigos essas questões:

Porque você acredita que tem o direito de fazer comentários sobre o corpo de outra pessoa?

Porque respeitam quando estamos acompanhadas de outro homem? Acreditam realmente que sentimos lisonjeadas com os assovios, gracejos e palavras de baixo calão?

Porque são capazes de respeitar um homem imaginário (namorado ou marido) e não são capazes de respeitar um não da própria mulher?

É esse o sentimento que nós lutamos contra, o sentimento de sermos meros objetos sujeito aos abusos sexuais de homens agressores.

Somos mulheres e como diz a música da cantora Iza: “porque Deus me fez assim, dona de mim!”

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