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O papel da vítima em relacionamentos abusivos

A maioria delas viram os pais em relacionamentos tóxicos e geralmente viram a mãe sofrendo os mesmo abusos pelos quais elas passam hoje.
O papel da vítima em relacionamentos abusivosO papel da vítima em relacionamentos abusivos

Depois que sobrevivi a um relacionamento abusivo, fui estudar para entender todas as facetas desse relacionamento.

Uma pergunta ficava martelando na minha cabeça: “porque eu permiti que o relacionamento chegasse a esse nível?”

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Essa mesma pergunta continuava martelando na minha cabeça quando via mulheres incríveis lotando meu consultório pedindo ajuda para saírem de relacionamentos onde elas viviam as mais profundas e severas humilhações.

Porque a vítima se permite passar por tais abusos?

Muitos desses abusos aconteciam ainda no namoro.

Enquanto ouvia de outras mulheres que o namorado pediu para tirar o batom vermelho e elas os dispensaram antes que o relacionamento se tornasse abusivo.

Algo que foi ficando muito claro para mim é que o relacionamento abusivo atual dessas mulheres não era o primeiro: muitas possuíam um histórico de vítimas de abusos diversos e também vivenciaram dentro de casa durante a infância.

A maioria delas viram os pais em relacionamentos tóxicos e geralmente viram a mãe sofrendo os mesmo abusos pelos quais elas passam hoje.

Essas mulheres se acostumaram com tais abusos e para elas isso era normal de acontecer.

Porque algumas mulheres colocavam um fim nos abusos e outras não?

No início da minha carreira como psicóloga trabalhei em uma escola como voluntária e o papel da vítima foi ficando ainda mais claro quando percebi que os adolescentes eram vítimas de bullying.

Por mais que a escola combatesse e punisse os agressores, as agressões ficavam cada vez mais veladas e difíceis de serem identificadas.

Começaram a acontecer até mesmo fora do âmbito escolar.

O caso mais incrível foi a de uma garota que foi transferida de outro bairro longe para a escola onde eu atuava porque sofreu bullying inclusive com ameaça de morte.

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Quando a adolescente chegou á escola onde eu trabalhava estava muito traumatizada e não demorou nem 15 dias e começou a ser vítima de valentões novamente.

Situações de bullying podem indicar situações de violência doméstica

Ninguém dessa escola conhecia o histórico da menina, então como o abuso continuava?

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Foto by Pixels

Outro fator importante para que eu entendesse o papel da vítima em um relacionamento abusivo foi quando li sobre um trabalho incrível da artista russa de performance Marina Abramović chamado Ritmo 0.

Na cidade de Nápoles na Itália, em uma sala de estúdio, a artista se colocou a disposição do público ficando imóvel durante seis horas e disponibilizou 72 objetos para que o público utilizasse da maneira que bem entendessem.

Dentre esses objetos existiam desde objetos inocentes como flores, pães e penas até faca, lâminas e uma arma carregada.

Próximo a artista existia um cartaz com os dizeres: “Instruções Há 72 objetos na mesa que se pode usar em mim como quiser/ Performance/ Eu sou o objeto/ Durante esse período eu me responsabilizo totalmente.”

No início o público estava tímido, mas aos poucos as pessoas foram se aproximando dela e interagindo com os objetos, faziam carinho com a flor, e cócegas com a pena.

Abramović não tinha nenhuma reação e as pessoas começaram lentamente a violenta-la.

Primeiro foi um arranhão na barriga, um corte no braço e depois continuou no corte de cabelo e abusos sexuais, tudo terminou com ela sangrando, seminua e mesmo assim ela não reagiu em nenhum momento.

O fato de ela ter sido agredida não foi por nenhuma inimizade que ela tinha ou por algo que ela fez, e sim por algo que ela não fez: se defender, não impor um limite, dizer chega!

Enquanto a profundidade desse trabalho ecoava na minha cabeça uma cliente me dizia, “enquanto ele me agredia com palavras eu ia levando o relacionamento, mas no momento que ele ergueu a mão para mim eu não quis mais”.

E então entendi era esse o limite daquela mulher, o posicionamento, dela frente ao abuso foi muito importante.

Como fazer para não se tornar mais uma vítima em um relacionamento abusivo?

Nos grupos de vítimas de violência doméstica que eu acompanho nas redes sociais, é muito comum elas relatarem sair de um relacionamento abusivo e embarcar em outro por vezes ainda pior.

Uma das primeiras coisas que um abusador faz é diminuir a autoestima da vítima, ele a isola de seu ciclo social e se torna exatamente tudo o que a vítima precisa.

Dessa forma a pessoa fica vulnerável, sem amigos, sem suporte emocional então o próximo passo é diminuir a autoestima.

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Com a autoestima diminuída a vítima começa a achar que merece esse tratamento, ela não tem forças de dizer basta, e nas primeiras agressões ela não consegue identificar os micros abusos e impedir que ele evolua.

É sobre isso que converso com as mulheres que me procuram: qual o seu limite?

E é interessante perceber que esse limite está proporcionalmente ligado a sua autoestima, é você quem vai decidir o limite de até onde o outro pode mudar você, até onde você pode sofrer humilhações.

Será que você não permite que o outro abuse de sua confiança e de seu amor?

Será que seu limite não está grande demais?

Se você foi vítima de um relacionamento amoroso abusivo, existe a possibilidade de você ser vítima de outros relacionamentos abusivos também entre familiares e amigos, e é você que precisa impor um limite dizer basta.

Para que o relacionamento seja saudável e esse limite do que é aceitável aconteça de forma saudável você precisa estar com a autoestima fortalecida, porque seu limite está muito relacionado ao seu sentimento de merecimento.

Reflita! Se você acreditar que merece um tratamento ruim é exatamente isso que permitirá que o outro faça com você e caso você acredite que mereça um tratamento carinhoso, com respeito e amor não aceitará menos que isso.

Um exercício bem prático que ensino a minhas clientes é: Imagine uma mulher que você goste muito, (mãe, tia, irmã, melhor amiga etc), agora imagine que ela está passando pelas mesmas coisas que você está passando.

Você acha que ela merece? Que você diria a ela? E a quantidade de amor que devemos dedicar ao outro deve ser proporcional ao amor que dedicamos a nós mesmos.

*Para que não exista nenhuma duvida ou mau entendido com esse texto deixo aqui muito explícito que nenhuma vítima de relacionamento abusivo é culpada.

Nenhuma vitima de violência doméstica é culpada, a atenção que chamo é: olhe para você e veja que não merece sofrer mais, só você pode impor o limite e se não consegue sozinha busque ajuda, você merece ser feliz.

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Sobre o autor(a)

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Luciana Santos

Psicóloga e Analista Comportamental apaixonada por pessoas e seus comportamentos anseia por levar a conhecimento ajudando as pessoas a resolverem seus problemas diários.
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