Quem nunca se deparou com uma imagem divertida com a hashtag #SEXTOU nas redes sociais? A euforia presente nessa comemoração coletiva pelo início do final de semana pode estar relacionada a um problema de saúde pública no Brasil: A Síndrome de Burnout.
A famosa hashtag nos revela a complexidade compreendida nas relações de trabalho, pois passamos a maior parte do tempo em jornadas de trabalho e como resultado dos avanços tecnológicos, permanecemos trabalhando mesmo após o término do expediente.
Tem sido cada vez mais comum a utilização de práticas competitivas, metas inalcançáveis e excesso de trabalho. Consequentemente, tem favorecido o aumento no índice de afastamento médico relacionados ao trabalho.
De acordo com pesquisas realizadas pela International Stress Management Association (ISMA-BR), aproximadamente 30% dos mais de cem milhões de trabalhadores brasileiros sofrem da Síndrome do esgotamento profissional.
Leia essa matéria e descubra se você só teve um ”mau dia de trabalho” ou se você também está sofrendo desta doença laboral.
O que é Síndrome de Burnout?
Você já se sentiu esgotado, sem concentração ou motivação e com a sensação de que sua cabeça parecia que ia “explodir” só de pensar numa situação de trabalho?
Essa exaustão vital também é chamada de Síndrome de “Burnout” ou Síndrome do Esgotamento Profissional. É classificada como um distúrbio emocional que apresenta 3 itens principais: esgotamento físico e mental, estresse e exaustão emocional.
O termo “Burnout” surgiu na década de 70 nos Estados Unidos e foi descrito pelo médico e psicanalista Herbert J Freudenberger como “(…) um estado de esgotamento físico e mental cuja causa está intimamente ligada à vida profissional”.
Se origina de duas palavras: burn que significa “queimar” e out que quer dizer “fora”. Traduzindo para o português podemos considerar como “consumir-se de dentro para fora” o que demonstra a intensidade do sofrimento apresentado neste quadro patológico.
Em suma, essa tensão emocional associada ao estresse crônico está presente em ambientes que possuem condições de trabalhos desgastantes ou exaustivas.
Em pesquisas recentes observou-se maior incidência em profissões que exigem envolvimento interpessoal intenso e direto como: profissionais de saúde, bancários, bombeiros, assistentes sociais, professores e policiais.
Como posso saber se estou com a Síndrome de Burnout?
Você tem percebido a falta motivação, concentração, ânimo e ao invés de satisfação a cada está mais irritado, desanimado, com a sensação de fracasso e sem perspectiva no seu trabalho já há algum tempo.
Além disso, estafa mental, problemas com sono, persistente cansaço físico e indisposição são frequentes no seu dia a dia. No entanto, como saber se você está com exaustão vital?
Geralmente os sintomas surgem aos poucos e em menor intensidade. Como resultado a maioria das pessoas não dão muita importância e acham que são pontos isolados e temporários.
Entretanto, em casos graves a Síndrome de Burnout poderá associar-se a outros quadros psicológicos: depressão, crises de ansiedade, síndrome do pânico, ideações suicidas, por exemplo.
Fique atento aos sinais e sintomas sugeridos pelo Ministério da Saúde. Eles podem indicar que há algo errado e que você precisa de ajuda profissional:
- Cansaço excessivo, físico e mental.
- Dor de cabeça frequente.
- Alterações no apetite.
- Insônia.
- Irritabilidade
- Dificuldades de concentração.
- Sentimentos de fracasso e insegurança.
- Negatividade constante.
- Sentimentos de derrota e desesperança.
- Sentimentos de incompetência.
- Alterações repentinas de humor.
- Isolamento.
- Fadiga.
- Pressão alta.
- Dores musculares.
- Psicodermatoses (ex. Psoríase)
- Problemas gastrointestinais.
- Alteração nos batimentos cardíacos.
Qual o tratamento indicado para a Síndrome Burnout?
O tratamento da Síndrome do esgotamento profissional pode ser realizado por uma equipe multidisciplinar, ou seja, uma equipe formada por vários profissionais de saúde para promoção do cuidado integral.
Por outro lado, frequentemente o psicólogo e o psiquiatra são os principais profissionais da área da saúde mental mais envolvidos nesse tipo de tratamento no Brasil.
A psicoterapia atrelada ao acompanhamento medicamentoso ( uso de antidepressivos e/ou ansiolíticos) é o tratamento mais utilizado na atualidade.No entanto, é necessário incluir intervenções que promovam saúde e qualidade de vida para combater o estresse.
Para agilizar o processo de recuperação e cuidado durante o tratamento é essencial criar uma rotina saudável com momentos de lazer e relaxamento, atividade física, refeições nutritivas e horas de sono para descanso.
Caso seja considerada a possibilidade de mudar de trabalho ou carreira, posteriormente é possível ter o apoio profissional para criar estratégias e novas possibilidades criativas para buscar novos horizontes profissionais.
Enquanto isso no consultório…
Gisele, Adriana e Renata* são mulheres entre 30 e 39 anos, casadas e com filhos. Possuem cargos na área de gestão e atuam entre 3 e 10 anos em grandes empresas com alto grau de responsabilidades. Elas são vistas como comunicativas, assertivas e inteligentes.
Embora tenham chegado ao meu consultório em momentos diferentes, são pacientes com características similares: Alto nível de perfeccionismo, o trabalho é a área mais importante da sua vida, são competitivas e “ vestem a camisa da empresa”.
“Essa é outra coisa que leva as pessoas a se tornarem caladas e a não falarem sobre alguns dos estressores que eles estão enfrentando porque elas não querem ser vistas como pessoas que não estão dando o seu melhor.”
Christina Maslach Psicóloga, em entrevista ao jornal The New York Times
São “mulheres fortes”, não choram e acima de tudo “precisam dar conta” de tarefas que beiram o impossível, tanto pelo alto grau de exigência, a falta de apoio dos líderes do trabalho ou pelas solicitações sem objetividade, clareza e com prazos surreais.
Quando o trabalho adoece
A ideia de começar mais um dia de trabalho torna-se um martírio. Em outras palavras, a empresa passa a representar um ambiente caótico e aversivo.
Há tarefas sem propósito, metas sufocantes, sobrecarga de funções, falta de autonomia e ausência de reconhecimento aos esforços ou realização profissional.
Logo o trabalho consome toda vitalidade existente e com o passar do tempo o feriado, o final de semana ou férias não são capazes de revigorar o sujeito para mais uma jornada de trabalho, por exemplo.
Com frequência os momentos de lazer são vivenciados para “tamponar” o sofrimento ocupacional e a presença de álcool e substâncias psicoativas são rotineiros.Tantas dores, perdas e “rompimentos” (interno e externo): a vida em seu limite.
“É como tampar um corte profundo com um band-aid e seguir dias com uma coisa que pode romper a qualquer momento” (SIC).
Citação de Renata durante a sessão de psicoterapia.
Crises de ansiedade, remédio para dormir, coma alcoólico, psoríase, acidente de trânsito, sentimento de incapacidade e inutilidade, esquecimento frequente. Dores no corpo, medo frequente da morte ou ideação suicida.
Esse é o estado psíquico da exaustão laboral: esgotamento físico e mental que afeta a vida social, os vínculos afetivos, a qualidade de vida. Impossibilita a autopercepção, autoestima e o autocuidado.
Fragiliza a vida profissional e pessoal e em casos graves faz-se necessário o afastamento do trabalhador pelo INSS para viabilizar o tratamento psicológico e psiquiátrico.
*Os nomes utilizados são fictícios, foram trocados para garantir o sigilo das pacientes
Comentários