Olá a todos!
Realmente estamos vivendo uma situação de crise em decorrência da pandemia do Covid-19, só comparáveis à II Guerra Mundial, que tem afetado nossos hábitos pessoais, nossas relações sociais, nosso tipo de trabalho, também a rotina dentro de casa, a forma de convivência com nossos familiares próximos e distantes.
Como a pandemia do Covid-19 está também alterando nosso estado mental?
- Aumento do estresse e da ansiedade devido ao excesso de informações e fake news, mas essa situação geralmente leva a atitudes irrefletidas, como sair correndo para o supermercado e querer comprar todos os produtos e estocar em casa;
- Paranoia de ver ‘coronavírus’ em tudo e sair limpando e esterilizando as mãos de forma compulsiva (o que é uma necessidade, mas para já quem quadro ou tem tendência ao TOC, pode ser um problema quando a pessoa utiliza produtos abrasivos e/ou tóxicos com a intenção de higienizar as mãos, podendo causar lesões na pele das mãos e braços);
- Depressão, sentindo-se pessimista, impotente. Mas já enfrentamos crises de epidemias antes (AIDS, ‘vaca louca’, H1N1, Rotavírus, etc.) e sempre nos reerguemos.
De um jeito ou de outro ‘sobrevivemos’ às grandes tragédias, com importantes aprendizados para nossas vidas.
Minha grande preocupação é: por quanto tempo vamos assimilar nossas medidas de contenção de epidemias com mudanças de hábitos de higiene depois que essa situação se resolver, antes que surja(m) nova(s) epidemia(s)?
Porque eu me lembro da importância de higienização com álcool em gel 70% e lavagem de mãos desde os tempos do Rotavírus e H1N1, mas depois que os surtos passaram nossos hábitos voltaram a ser como antes e aí foram surgindo novas epidemias.
Quem sabe o Coronavírus nos obrigue a assimilar de forma definitiva esses hábitos de higienização pessoal, em respeito a nós mesmos e aos próximos.
Se não, outras epidemias ou pandemias vão nos fazer ‘começar tudo de novo’, superando nossa capacidade de resiliência às crises.
E esses aprendizados também devem ser extensivos às nossas relações familiares.
Tenho ouvido de alguns pacientes que sentem falta de abraçar e beijar filhos/ netos/sobrinhos, marido/esposa, pais/avós, abraçar e cumprimentar vizinhos, colegas, profissionais.
Mudanças de hábitos de higiene podem fazer a diferença
Talvez a nossa mudança de hábitos de higiene pessoal e doméstico nos ajude a valorizar esse tipo de gestos. Somos um tipo afetuoso, que gosta de abraçar e beijar, apertar as mãos, tocar no outro, e por enquanto vamos ter que nos manter fisicamente afastados.
Mas, se todos colaborarmos, esse momento ruim vai passar, e podemos voltar a cumprimentar fisicamente e demonstrar afeto aos outros, mas dessa vez com segurança, atenção.
Nossas crianças devem ser ensinadas desde cedo sobre os hábitos de higiene e podemos fazer isso de forma tranquila, lúdica, sem necessidade de ‘entrar em pânico’ (como eu falei, o estresse e a ansiedade estão frequentemente associados à diminuição da capacidade de raciocínio, memória, organização, discernimento).
Se estivermos ansiosos ou deprimidos diante da situação, podemos acabar, consciente ou inconscientemente, servindo de modelos negativos isso às nossas crianças, que também vão ficar apavoradas.
Se mantivermos uma postura calma, racional, nossas crianças perceberão que essa é a forma mais inteligente de superarmos as crises.
Se você não se sentir em condições de fazer isso sozinho(a), peça ajuda, converse com outras pessoas, sejam familiares ou profissionais, que possam orientá-lo(a).
Home office com toda a família em casa?
A rotina de trabalho também muda. Quem nunca trabalhou em home office ou teletrabalho, pode vivenciar uma boa experiência.
Mas tem que ter disciplina como se estivesse em local de trabalho distante: horário, vestuário, organização, não ficar indo para a cozinha ‘fazer um lanchinho’ a todo momento, e principalmente ensinar as crianças que, naquele momento e naquele espaço, não vai dar para ficar brincando com elas.
Elas certamente estarão entediadas de ter que ficar fechadas em casa, sem poder sair para piscina, parquinhos e brinquedoteca do condomínio (imagine com esse sol!), sem aula, sem outras atividades culturais, esportivas e de lazer (os clubes, cinemas, parques estão fechados!).
Mas existem outras atividades que podem ser feitas dentro de casa, sem ser só televisão e ficar jogando no celular.
Valorização da Convivência Familiar
Novamente, talvez o Coronavírus nos ensine também a valorizar a convivência com a família, de forma mais criativa, com atividades interativas, brincadeiras, leituras.
Talvez nos ensine a nos organizarmos melhor na questão de trabalho para conciliarmos as atividades laborais com o tempo de convivência familiar, nos deixe menos estressados com o trânsito, as pressões de metas, a competitividade, e nos permita sermos mais concentrados, atentos com produção satisfatória sem exageros.
Ainda bem que temos uma boa tecnologia para nos ajudar a superar distâncias físicas, ‘matar saudades’, nos solidarizarmos com aqueles que estejam isolados devido à infecção e aqueles que queriam se isolar achando que não poderia ter nenhuma forma de contato, por estarem deprimidos ou apavorados com o surto pandêmico.
Telefonar, mandar mensagens de texto/vídeo, chamadas de vídeo nos ajuda a não nos sentirmos isolados (tanto no sentido físico como emocional) e talvez aprendamos a nos lembrar das pessoas e a nos sentirmos amados e valorizados quando as pessoas se lembram de nós.
Já houve situações em que a pessoa infectada se achou ‘esquecida’, mas em vez disso recebeu tantas mensagens de familiares e amigos de forma inesperada, que sua tristeza ‘desapareceu’…
O que podemos aprender com o Covid-19
Talvez o Coronavírus nos ensine também a ter respeito por aqueles com maior dificuldade: os idosos, as pessoas com deficiências, as pessoas com necessidades específicas (como os imunodepressivos), que são as mais vulneráveis à doença. Os hábitos de higiene pessoal e doméstico passaram ser uma questão de saúde pública e cidadania.
Esse período revelou um sentimento de solidariedade inclusive com idosos que moram sozinhos, vizinhos, ou em asilos: por exemplo, fazer compras e trazer para eles, falar com eles (mesmo que seja pelo telefone!).
Se somos capazes de fazer por estranhos, também devemos ser capazes de respeitar e compreender as limitações e restrições dessas pessoas que compõem a nossa família.
E talvez o Coronavírus nos ensine a sermos compadecidos daquelas pessoas que vivem nas ruas, ou em condições precárias de higiene (sem redes de saneamento básico), que nem sequer podem adotar os hábitos de asseio pessoal e doméstico.
Porque essas pessoas são as mais afetadas: como podemos falar em ‘lavar as mãos’ se na casa dessas famílias não tem água potável nem encanada, o esgoto corre a céu aberto, não têm dinheiro para comprar o álcool em gel 70%?
Até quando as mudanças de hábitos de higiene e asseio pessoal e doméstico, etiqueta social, etc., durarão?
Quantas epidemias e pandemias serão necessárias para nos fazermos ter respeito por nós mesmos e pelos próximos?
O que mais será necessário para nos fazermos amar e valorizar nossos laços familiares, e ensinar isso às nossas crianças (filhos, netos, sobrinhos etc.)?
Cuidem-se.
Até o próximo artigo!
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