No texto anterior “Se cuidar para bem cuidar” apresentamos brevemente a psicoterapia de grupo como uma das possibilidades de intervenção da psicologia no contexto de emergência e urgência.

Hoje gostaria de falar um pouco sobre a base teórica que sustenta esta técnica, desenvolvida por Moreno.

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Um pouco de suas origens e como a psicoterapia de grupo pode ser uma possibilidade de nos reconhecermos e crescermos no compartilhar com o outro.

A Psicoterapia de Grupo na teoria de Moreno

Um dos pilares da teoria de Jacob Levi Moreno, a Socionomia, é a Sociometria que estuda o tratamento dos sistemas sociais por meio de intervenções, sendo uma delas a Psicoterapia de Grupo.

Uma peculiaridade acerca desta construção que é ter nascido da experiência passando depois para a conceituação, do palpável para o papel.

Desde as civilizações mais primitivas até as mais desenvolvidas nota-se que existe uma sabedoria que atribui à força do grupo como decisiva na estruturação da vida social.

E a psicoterapia de grupo, portanto, é ainda mais antiga que a terapia individual.

Em seu livro Psicoterapia de Grupo e Psicodrama é traçada uma linha cronológica com diversos trabalhos.

Destaco aquele realizado com crianças em 1910 nos Jardins de Viena, como forma de oposição e protesto contra os métodos individuais e dominantes da época.

Como se pode ajudar as pessoas que vivem em grupo, mas permanecem solitárias? Como se pode ajuda-las a ser criadoras?

(MORENO, p.24)

Nascemos inseridos em um grupo, adoecemos no grupo e também podemos nos reestabelecer dentro de um grupo.

O que é a terapia em grupo?

Consiste em sessões terapêuticas nas quais três ou mais pessoas estão reunidas e se esforçam para resolver problemas comuns que apareçam neste lugar seguro, de acolhimento e troca de experiências.

Diferentemente da terapia individual, os participantes podem desempenhar a função de terapeutas auxiliares, ou seja, cada paciente se torna agente terapêutico dos outros.

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Desde que um grupo de pacientes se reúne para tratamento é instituído o chamado Juramento do Grupo, onde cada membro deve ser levado a compreender sua responsabilidade recíproca e se conduzir no decorrer do tratamento.

A responsabilidade precisa ser dividida por todos os membros do grupo, pacientes e terapeutas auxiliares. Cada um é responsável pelo bem-estar dos outros membros.

(MORENO, p.24)

Partindo do fato de que cada pessoa pertencente a um grupo terapêutico também está inserida em outros grupos dentro da sociedade.

Podemos pressupor que o que foi aprendido neste grupo menor tem a possibilidade de continuar reverberando nas relações e contatos que são estabelecidos, é o principio da interação terapêutica.

A terapia de grupo tem caráter direto, imediato da interação do grupo que traz consigo a possibilidade de uma prova de realidade.

O paciente é confrontado pelas pessoas e situações reais de sua vida, mas também com outras pessoas que fazem parte do grupo.

Outra característica é que traz a possibilidade de compreender e integrar o processo psicodinâmico do indivíduo.

Pode-se, portanto, tratar na terapia de grupo, todo o indivíduo e o grupo como um todo, juntos ou separados, o que não se vê na terapia individual.

O lugar do “como se”

Cada pessoa desenvolve diversos papéis que podem estar atrelados aos mais diversos contextos nos quais esteja inserida, ou mesmo dentro da família por exemplo.

Ela pode desempenhar o papel de filha, mãe, tia, avô, neto, primo e para cada uma destas interações existem formas, características e vínculos que se diferenciam cada uma destas interações.

O papel pode então ser definido como sendo a menor unidade de uma cultura e podemos ter papéis mais ou menos desenvolvidos na vida e de acordo com o momento.

E um papel desenvolvido tem relação direta com a nossa capacidade de espontaneidade, ao nosso grau de adequação versus originalidade.

Adoecimento, portanto, pode ser entendido como sendo o baixo nível de espontaneidade de criatividade.

Ou seja, um grau mais elevado de adequação que denota uma falta de novos elementos para dar novas respostas, tornando nossos comportamentos rígidos e automáticos (conserva cultural).

Espontaneidade é a resposta adequada a uma nova situação ou uma nova resposta a uma situação antiga.

(MORENO, p.58)

A terapia traz o chamado lugar do “como se”, uma realidade suplementar disponível dentro de um grupo seguro, mediado por profissionais que usam as técnicas do psicodrama no manejo, como uma possibilidade de testar novas saídas.

E, porque não, de ressignificar processos e conceitos cristalizados que não mais fazem sentidos dentro do aqui e agora.

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Estas conservas, apesar de terem servido em algum momento hoje bloqueiam respostas novas e adequadas e trazendo consigo o sofrimento.

Até a próxima!

Referencia Bibliográfica

MORENO, J.L. Psicoterapia de grupo e psicodrama. São Paulo: Editora Mestre Jou, 1974.

Indicação de leitura

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