Faz alguns dias que ouço as pessoas reclamando sobre o que está acontecendo no mundo dentro do consultório.
Em ambas as situações em um tom de espanto, indignação ou desespero.
Nem sempre as queixas são as mesmas, em algumas situações mencionam a crise política, o número de mortos, isolamento, desemprego, as manifestações que estão ocorrendo nos países.
Em outros momentos referem-se a algo mais íntimo, como o sentimento, sensações ou medos.
Quando escuto essas pessoas, não são só as palavras que vejo sair da boca delas, mas toda a desesperança frente a situação que todos estão vivendo.
Embora todos estejam na mesma tempestade, nem todos estão no mesmo barco.
Alguns em barcos grandes e super tecnológicos, outros em barcos pequenos e até furados, pois nem todos tem o mesmo recurso para lidar com essa tempestade.
A vivência é diferente, as dificuldades são diferentes.
Afinal a desigualdade social determina como é possível lidar com esses contratempos que surge no caminhar da vida.
Com isso é possível refletir sobre o lugar em que estamos vivendo, cheio de violência, incertezas e inconstâncias.
Claro que essas situações sempre existiram na sociedade, desde o momento em que nasce.
Mas é valido ressaltar que foram potencializadas diante da pandemia e do contexto em que estamos hoje.
Esse cenário pode ser correlacionado com os primeiros anos de vida de um bebê.
Quando o bebê nasce é preciso que tenha uma pessoa que satisfaça suas necessidades, proporcione um lugar em que ele possa confiar para se desenvolver.
Nesse momento o mundo do bebê é o que está envolta dele, a figura materna.
Essa confiança é construída a partir da presença e frequência dessa pessoa que proporciona o cuidado na maneira que toca, conversa e supri as necessidades básicas.
Caso esse ambiente inicial se apresenta como instável, inconstante e ausente, fica mais difícil se sentir seguro e qualquer intervenção da figura materna pode parecer intrusiva.
Dessa maneira ao observar as situações que estão acontecendo, a sociedade não se apresenta como possível de confiar.
Mas sim um lugar que invade e não protege e que exige muito mais psiquicamente de cada pessoa, às vezes até foge da capacidade de compressão.
Não é à toa que os consultórios online estão cheios e foi necessário a criação de projetos sociais voluntários para auxiliar a população com atendimento psicológico.
Está difícil para algumas pessoas a lidarem com o desamparo social, permanecer estável emocionalmente, suportar as invasões desse mundo e elaborar o sofrimento. Se é que é possível dentro desse caos.
A pandemia potencializou o sofrimento, seja aqueles que estavam guardados dentro de cada um, se escondendo ou aqueles que atravessam o sujeito a partir de uma sociedade cheia de violência e instabilidade.
Pode ser que diminua essa sensação de desamparo após o termino da pandemia e a sociedade volte para um estado de alienação e naturalização de todas as violências que cerca o sujeito.
O momento que estamos vivendo nos força a exercitar a capacidade empática, resiliência e lidar com as frustrações.
Possibilita entrar em contato com mundo interno, por meio dos sintomas que surge e esse turbilhão de sensações que invade o sujeito, incluindo angustias, sofrimentos e descobertas.
Talvez essa fase reforce a importância de cuidar da saúde mental, proporcione um conhecimento maior sobre a função do psicólogo, sem estereotipo e amplie a busque por cuidado.
Cabe a reflexão de que mundo estamos buscando e qual papel de cada cidadão dentro da sociedade, pois podemos contribuir com algumas mudanças e começamos com o voto.
