Ingressei na faculdade em 2007. Assim como boa parte dos que iniciam os estudos de Psicologia, tinha pouco conhecimento das diversas possibilidades de atuação.
Lembro que pensava em atuar na área organizacional, pois achava que me identificaria com o tipo de trabalho realizado.
Com o tempo, percebi que não seguiria nesse setor.
Na metade do curso, percebi que tinha grande interesse na área escolar e na Psicologia Social.
Pensava, se possível, conciliar ambas as partes, ainda que tivesse uma ligeira preferência pela área da Educação.
No último ano, dos três estágios obrigatórios, escolhi me aprofundar na Psicologia Escolar e Comunitária.
Como deveria escolher ao menos um estágio na área clínica, optei por atender uma pessoa adulta, utilizando a teoria psicanalítica.
Tinha certeza que não atuaria em um consultório, pois não me enxergava lá.
Realizei estágio de Psicologia Escolar em um Conselho Tutelar. Lá, atendia crianças encaminhadas pelas escolas da região. Tive muitos aprendizados.
Foi possível fazer um encontro com professores de diversas escolas e, ainda, comparecer a uma instituição de ensino para dialogar sobre as práticas escolares bem como os principais conflitos e dificuldades encontrados pelos alunos.
Mesmo assim, não me senti motivado a permanecer nesse seguimento após minha formatura. Por outro lado, me identifiquei com o estágio de Psicologia Comunitária, realizado em um Centro de Acolhida da capital paulista.
Fazíamos um trabalho com fotos no qual todos relatavam o que cada imagem lhes fazia sentir ou lembrar. Foi incrível poder partilhar e ouvir tantas histórias trazidas por cada participante.
Então, contrariando o pensamento que tinha outrora, decidi que atuaria no terceiro setor.
Me formei em 2012 e tive uma breve passagem em uma clínica que atendia pacientes por convênio. Iniciei, então, efetivamente minha carreira na área social. Comecei como orientador socioeducativo.
Andava pelas ruas do centro de São Paulo e abordava os moradores de rua. Conheci a história deles, suas angústias, seus sonhos, medos e crenças.
Ouvindo-os falar, muitas ideias que tinha caíram por terra assim como textos que lera na faculdade se mostraram ineficientes para uma população de tamanha complexidade.
Como entrávamos no último horário, a principal função de minha equipe era encaminhar os moradores de rua para centros de acolhida. Recebíamos um determinado número de vagas dos albergues e deveríamos preenche-las.
Nos dias quentes, a procura era menor, pois muitos preferiam permanecer nas ruas e usufruir das atrações do centro da capital paulista. Ainda assim, conseguíamos ocupar todas as vagas que nos eram cedidas, principalmente por aqueles que realizava algum tipo de trabalho com horário fixo.
O cenário mudava nos dias frios e chuvosos, quando a busca por pernoites se intensificava.
No inverno, tínhamos uma operação chamada “frente fria”, que disponibilizava um número elevado de vagas em centros de acolhida para oferecer pernoites a um grande número de moradores de rua.
Frequentemente o número de leitos era insuficiente para atender toda a demanda.
Após pouco mais de um ano, mudei para outra instituição. Agora, contratado como Técnico.
Esse novo emprego era em uma casa, onde recebíamos alguns moradores de rua que realizavam tratamento para dependência química.
Lá, teriam acolhimento no local por alguns meses enquanto tentávamos entrar em contato com seus familiares, caso eles quisessem. Também buscávamos inseri-los em instituições de ensino e no mercado de trabalho.
A atuação do psicólogo nesse serviço estava direcionada para uma escuta dos diversos conflitos enfrentados pelos usuários do serviço, sejam eles de origem familiar, sejam eles oriundos das dificuldades encontradas no tratamento da dependência química ou do cotidiano nas ruas de São Paulo.
A partir disso, o profissional deveria reunir-se individualmente com o indivíduo e discutir com ele estratégias para que suas demandas fossem alcançadas, criando, assim, um plano de atendimento.
Permaneci por alguns anos nesse trabalho até que comecei a pensar na possibilidade de atuar na área clínica.
De início, tinha como objetivo conciliar o emprego registrado com os atendimentos.
Temia não me adaptar ao trabalho exclusivamente clínico e, ainda, não ter a segurança da CLT.
Aos poucos, comecei a me identificar com a atuação no consultório, saí do emprego fixo para me dedicar integralmente à clínica.
Estranho pensar que me sinto muito realizado com o trabalho que faço hoje, em um lugar que jamais imaginaria estar.
Fui me encontrar em um local que sequer era uma opção.
E que bom que foi assim.
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