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Visibilidade do negro no Brasil: Estamos realmente sendo incluídos?

No Brasil a falsa afirmação que somos uma democracia racial reforça a ideia de que a inclusão esta ocorrendo. Não está. Constatamos isso todo tempo em todo lugar.
Visibilidade do negro no Brasil: Estamos realmente sendo incluídos?

Observamos nos últimos tempos um movimento das mídias na intenção de promover a visibilidade do negro e fazer com que a discussão do racismo se torne uma pauta constante.

Precisamos ficar atentos e, sim, desconfiar dos verdadeiros propósitos dos que nos convidam para essa empreitada, parecendo à primeira vista uma boa proposta.

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Será sincera a intenção de integrar ao universo das comunicações e dar a merecida visibilidade a mais de cinquenta por cento da população brasileira?

Ou será que pretendem com esse movimento apenas validar a condição social que nos colocaram, de descendentes de escravizados, que apesar de nossa contribuição para o crescimento e enriquecimento do país que desde sua descoberta explora indígenas e negros?

Faço essa reflexão com o objetivo de alertar para essas pautas e vejamos com clareza as verdadeiras intenções quando nos oferecem essas “oportunidades”.

A inclusão de profissionais diversos nas empresas precisa existir e esse compromisso também necessita estar bem claro, caso contrário a sociedade ficará sujeita que as diretrizes das leis não sejam observadas e aconteçam equivocadamente.

Por exemplo, uma empresa com cem funcionários que contrata um ou dois negros, ou oferece um salário compatível para poucas mulheres, ou admite para seus quadros poucos empregados com alguma deficiência, quando na verdade poderia absorver mais pessoas nessas condições, trata-se de possível engodo, nos confundindo com relação ao verdadeiro objetivo da lei de inclusão.

Podemos ver o que acontece nas mídias televisivas, nos cartazes e outdoors, nas revistas e na internet.

Nos comerciais para mídia televisiva, por exemplo: se assistirmos televisão durante um dia inteiro, verificaremos uma enorme quantidade de produtos anunciados e uma suposta inserção de diversidade, principalmente do negro.

Mas avaliando o número de pessoas negras, homens, mulheres, crianças que visualizamos, não precisaremos nem consultar dados estatísticos para concluir que a inserção não corresponde quantitativamente ao número de produtos nem aos dados que apontam que a maioria da população é negra.

Então, não há inclusão, tão logo visibilidade. Isso sem mencionarmos pessoas LGBTQIA+, indígenas ou deficientes.

O programa BBB deste ano de 2021, exemplifica muito bem essa ideia. Maior número de participantes negros de todas as edições.

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Esse número não representa os 54% da população brasileira que se auto declara negra.
Existe um conceito chamado tokenismo, criado nos Estados Unidos, na década de 1950, que nos auxilia a entender esse mecanismo.

O conceito aplicado consiste em mascarar o racismo (ou machismo) promovendo uma inclusão que não segue a proporcionalidade, ou seja, beneficia apenas um pequeno grupo, com a afirmativa de que está promovendo a inclusão e trabalhando a diversidade, mas, na prática, esse pequeno grupo não representa o todo excluído, segregado e discriminado, mantendo assim as desigualdades nos mesmos índices em que se apresentam.

Tokenismo e a Consciência Humana: uma prática covarde – Joyce Berth

Impressão de inclusão. Trata-se de um mecanismo que mascara o racismo, provoca ilusão.

Se cumpridos os parâmetros legais a risca deveríamos ver muito mais mulheres, homens e crianças negros nos comerciais da televisão e nas outras mídias, nas novelas, nos filmes, bem como outras pessoas de minorias sub-representadas.

No programa BBB 21 onde é anunciado ser a edição com maior número de participantes negros.

Vinte pessoas, doze brancos, oito negros. Será que podemos chamar de representatividade?

Penso que não. Podemos chamar de tokenismo.

O conceito tokenismo, não resolveu uma situação, somente explicou, mostrando um mecanismo sutil e invisível que nos confunde.

Mascara o racismo, o machismo e outras práticas preconceituosas e discriminatórias. E enquanto a proporcionalidade não for considerada a inclusão não se constituirá.

Todo esse mecanismo sórdido de não reconhecimento da necessidade de integração de pessoas diferentes, em uma sociedade composta cada vez mais de indivíduos diversos, com grande potencial para contribuir com o crescimento das organizações, colabora com o aumento exponencial de pessoas depressivas, deprimidas, se sentindo desajustadas, invisibilizadas.

Condição que causa adoecimento psíquico levando-as a não acreditarem em seus potenciais, colocadas em condição de sub-aproveitamento.

No Brasil a falsa afirmação que somos uma democracia racial reforça a ideia de que a inclusão esta ocorrendo. Não está. Constatamos isso todo tempo em todo lugar.

Nos escritórios, nos estabelecimentos comerciais, nas escolas. Principalmente nos altos postos hierárquicos; pois quanto mais alto o lugar no organograma menos diversidade encontraremos.

Esse problema só será corrigido assertivamente quando todas as instituições, todos os lugares onde houver potencial profissional e intelectual olharem efetivamente para a necessidade de inclusão de todos os grupos sub-aproveitados, sejam negros, mulheres, indígenas, LGBTQIA+ e todas as minorias excluídas.

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Sobre o autor(a)

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Eneida de Paula

Psicóloga Clínica, com especialização em Psicologia e Relações Raciais, pelo AMMA Psique e Negritude. Interesse pelas relações raciais e como o sofrimento apresentado em consequência do racismo.
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