Segundo o DSM-V (2014), a disforia de gênero é um sofrimento afetivo/cognitivo que uma pessoa sente por não se identificar com o gênero designado ao nascer.
Ou seja, a pessoa no processo de percepção da sua identidade transgênero ou em transição vai expressar este sofrimento de diversas formas podendo ser observado através de alguns comportamentos como:
- Modo de falar sobre si no gênero oposto e preferência para ser chamado (a/e) como tal;
- Utilização de roupas e adereços do gênero oposto;
- Formas de esconder o sexo oposto, dentre outras.
Além disso, a pessoa transgênero antes de apresentar as mudanças no comportamento, acaba passando por um momento de intenso sofrimento ao perceber não se identificar com o sexo biológico, podendo sentir repulsa da própria genitália.
O que pode desencadear depressão, ansiedade, comportamentos suicidas, entre outros transtornos mentais.
Como a disforia pode ser uma construção social?
Ao longo dos séculos houve casos conhecidos de pessoas transgêneros mudando de cidades ou países, buscando viver de acordo com o gênero que se identificava através de suas vestimentas.
A história de Chervalier D’Eon/Madame Beaumont (1728-1810) auxilia para o pensamento de como a construção pode influenciar para a disforia de gênero.
Essa história trata de um/a funcionário/a do Rei Luís XV, servindo como espadachim e passou 49 anos acreditando ser uma mulher que algumas vezes se vestia de homem e a tolerância do rei e da sociedade francesa o/a permitiu conviver entre os gêneros sem perda de posição na corte.
Foi a partir do século XX que a transição entre os gêneros foi identificada como doença, permanecendo assim até o ano de 2018 como um transtorno mental.
A simplicidade binária (vagina-mulher-feminina versus pênis-homem-masculino) que se supunha organizar e distribuir os corpos na estrutura social, perde-se, confunde-se.
E finalmente, chega-se à conclusão que ser homem e/ou mulher não é tão simples (BENTO, 2012, p. 11).
Considerar a binaridade de gênero como algo fechado em uma “caixinha” é ter uma visão simplista de gênero, onde não se leva em consideração toda a subjetividade da pessoa em que o gênero irá se expressar do seu próprio jeito independente do que se espera enquanto sociedade.
A construção social da disforia é percebida a partir de como a sociedade dita e quer regular a construção de gênero, logo qualquer pessoa expressando seu gênero fora desse padrão é julgada e vista como “desviante”.
Essa construção compartimentada é ensinada para as crianças de forma direta ou indireta, levando-as a ter a sua própria construção de gênero.
No entanto, não se identificar com essas caixinhas aparece como a disforia de gênero e tudo aquilo que a sociedade julga, dita e regula como errado ou “desviante do normal” cisgênero.
Tomemos como exemplo o que a côrte do rei e a sociedade francesa do século 18 pôde proporcionar para uma pessoa transgênero?
E o que nós no século 21 fazemos a respeito dessa construção social de disforia de gênero?
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