Anúncios
ORGANIZE-SE PSI, SEU SOFTWARE PSRA PSICÓLOGOS

As crises emocionais conhecidas como meltdown e shutdown são frequentemente associadas ao autismo, mas também podem ocorrer em pessoas com TDAH (Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade).

Essas reações são respostas intensas a situações de sobrecarga sensorial, emocional ou cognitiva.

Compreender essas crises é essencial para oferecer suporte adequado e promover ambientes mais inclusivos.

É muito comum que pacientes com TDAH e autismo sejam diagnosticados com crise de ansiedade e síndrome do pânico por conta de crises de meltdown e shutdow.

Anúncios

O meltdown (explosão em inglês) é uma reação explosiva e visível à sobrecarga emocional ou sensorial.

Ele é caracterizado por uma perda temporária de controle, na qual a pessoa não consegue processar ou responder de forma racional ao ambiente.

Em muitos casos, o meltdown é confundido com birra, chilique ou frescura, mas, diferentemente de um comportamento intencional, trata-se de uma resposta involuntária ao estresse.

Essa reação pode envolver choro descontrolado, gritos, verbalizações intensas, comportamentos agressivos como jogar objetos ou bater em si mesmo, além de tentativas de fuga ou isolamento.

Geralmente, é causado por estímulos sensoriais excessivos, mudanças repentinas na rotina ou dificuldades de comunicação que levam à frustração.

Pessoas que experimentam esses episódios frequentemente relatam sensação de impotência e vergonha após a crise, o que pode agravar quadros de ansiedade e insegurança.

O shutdown, (desligamento em inglês) por outro lado, é uma resposta mais silenciosa e interna à sobrecarga. Em vez de explodir, a pessoa “desliga”, tornando-se incapaz de responder aos estímulos ao redor.

É como se o cérebro entrasse em modo de defesa para evitar mais sobrecarga.

Anúncios

Durante um shutdown, a pessoa pode ficar em silêncio repentino, perder temporariamente a fala, olhar fixo, apresentar dificuldade em se movimentar ou reagir, além de se retrair física ou emocionalmente, como se escondendo do ambiente.

Essa reação costuma ser desencadeada por excesso de estímulos sensoriais ou sociais, ansiedade intensa, frustração acumulada e cansaço extremo após interações prolongadas ou desafiadoras, como uma discussão por exemplo.

Assim como no meltdown, o shutdown pode ser emocionalmente desgastante, levando à sensação de desconexão e isolamento.

A diferença entre meltdown e shutdown está na forma como as crises se manifestam.

Enquanto o meltdown é explosivo e visível, o shutdown é interno e silencioso. Ambos, porém, têm origem em sobrecarga emocional ou sensorial e exigem estratégias específicas para manejo e apoio.

Como as crises se apresentam nos dois transtornos?

Embora as crises de meltdown e shutdown sejam mais comuns no autismo, elas também podem ocorrer em pessoas com TDAH.

No TDAH, os meltdowns geralmente estão relacionados à impulsividade e sobrecarga emocional e dificuldades em lidar com mudanças bruscas ou frustrações com tarefas difíceis, e no autismo geralmente a origem advém do excesso de estimulo sensorial e social.

Os shutdowns no TDAH podem surgir em situações de sobrecarga mental, procrastinação extrema diante de demandas complexas e fadiga mental intensa após esforços prolongados para manter o foco, no autismo por outro lado pode envolver sobrecarga de estímulos e a duração tende a ser maior.

Em alguns casos, esses episódios em pessoas com TDAH podem ser desencadeados por rejeição ou críticas, especialmente em indivíduos com disforia sensível a rejeição, uma condição que afeta profundamente a autoestima e o bem-estar emocional.

Os prejuízos causados por essas crises na saúde mental

Essas crises podem afetar profundamente a autoestima e as relações sociais. O medo de ter um meltdown ou shutdown em público muitas vezes leva à evitação de situações sociais, contribuindo para isolamento e ansiedade.

Pessoas que experimentam essas crises com frequência podem desenvolver estratégias de mascaramento, ocultando suas dificuldades para parecerem mais “neurotípicas”.

No entanto, esse mascaramento tende a gerar desgaste emocional e uma sensação constante de inadequação. Isso é particularmente evidente em adultos e idosos que foram diagnosticados tardiamente, como mencionado no caso do autismo na terceira idade.

Além das intervenções terapêuticas, o suporte familiar e social desempenha um papel essencial no manejo dessas crises. É importante que familiares e amigos aprendam a reconhecer os sinais precoces de meltdown e shutdown, oferecendo suporte emocional e prático.

No ambiente escolar e profissional, adaptações podem ser necessárias para criar condições que minimizem as chances de sobrecarga. Flexibilidade, pausas programadas e espaços tranquilos podem ajudar a prevenir crises e promover maior inclusão.

Essas pausas são tão importantes que levam muitos pacientes, de forma inconscientes,  ao vicio do cigarro por exemplo, mas isso é tema para um próximo artigo.

Anúncios

Como lidar com as crises?

Para ambos os transtornos, no caso do meltdown, reduzir estímulos, oferecer um ambiente calmo e seguro e evitar confrontos imediatos são medidas importantes. O primeiro passo é entender qual foi o agente causador da crise: pode ser barulhos altos e frequentes, cheiros, diferença na temperatura, excessos de luzes, quebra na rotina etc. A partir do momento que se observa de onde se inicia o estímulo, o ideal é sair do ambiente causador, ficar em um ambiente calmo por alguns minutos pode impedir a crise ou diminuir sua duração. O uso de óculos escuros, fones com bloqueadores de ruídos pode ajudar muito a impedir as crises.

Para o shutdown, respeitar o espaço da pessoa, oferecer suporte prático e validar os sentimentos são abordagens mais eficazes. Em ambos os casos, a intervenção precoce e a criação de um ambiente seguro são fundamentais para reduzir a frequência e a intensidade das crises. Ter um animal de estimação de apoio e suporte pode auxiliar o paciente a se regular durante as crises. O abraço apertado* de alguém de confiança (caso o toque físico seja tolerável para o paciente), o uso de cobertores ponderados**, também pode ajudar a diminuir a intensidade e duração das crises.

Em ambas as crises a prática de exercícios físicos frequentes podem reduzir a intensidade e duração dos sintomas e mesmo durante as crises um aeróbico intenso (como polichinelo, por exemplo) irá ajudar a cessar as crises mais rapidamente. É importante pontuar que   no caso do TDAH muitas crises de metdown (confundidas com crises de ansiedade)  pode estar camuflada a hiperatividade se manifestando, nesse caso exercícios aeróbicos intensos trará alívio as crises.

Conclusão

Meltdowns e shutdowns são reações emocionais complexas e intensas que ocorrem tanto no autismo quanto no TDAH. Embora as causas e expressões possam variar, o impacto dessas crises na vida cotidiana é significativo. Compreender e reconhecer esses episódios é o primeiro passo para oferecer apoio adequado. Seja no ambiente familiar, escolar ou profissional, criar espaços seguros e acolhedores permite que pessoas neurodivergentes lidem melhor com seus desafios e explorem suas potencialidades.

Por fim, a aceitação e o apoio contínuos são essenciais para promover o bem-estar e a inclusão, ajudando a reduzir o estigma e proporcionando qualidade de vida em todas as fases da vida. Investir em conhecimento sobre esses temas e oferecer empatia são estratégias poderosas para transformar a experiência de quem vive com essas condições, criando uma sociedade mais compreensiva e inclusiva.

* Temple Grandin (cientista renomada e ativista autista) desenvolveu a teoria do abraço ao perceber que a pressão profunda , como a de um abraço firme, ajuda a reduzir a ansiedade e as crises sensoriais. Inspirada em máquinas de contenção usadas em animais, ela criou a máquina do abraço para promover calma e autorregulação emocional. Grandin explica que a pressão física ativa o sistema nervoso responsável pelo relaxamento, mas ressalta que nem todos toleram o toque durante as crises. Alternativas, como colchas pesadas e almofadas sensoriais, também podem oferecer conforto.

** Um cobertor ponderado é um tipo de cobertor feito com materiais pesados, como microesferas de vidro ou pellets plásticos, projetado para aplicar pressão profunda e uniforme no corpo. Essa pressão simula a sensação de um abraço firme, promovendo relaxamento e bem-estar. Ele é amplamente utilizado para ajudar pessoas com autismo, TDAH, ansiedade, insônia e outros transtornos sensoriais, pois ativa o sistema nervoso parassimpático, responsável por reduzir a frequência cardíaca e os níveis de cortisol, o hormônio do estresse. A sensação proporcionada pelo cobertor ponderado é conhecida como estimulação por pressão profunda (Deep Pressure Stimulation – DPS), que tem efeitos calmantes, ajudando a melhorar o sono, reduzindo a melhoria e controlando crises emocionais.

Referências:

Amaral, F. (2020). “Autismo e TDAH: Compreendendo as Diferenças e Semelhanças”. Rio de Janeiro: Vozes.

Grandin, T. (1995) “Pensando em imagens: e outros relatos da minha vida com autismo” Vintage. – Templo

Maia, A. C., & Lopes, R. (2021). “Neurodiversidade e Inclusão: Um Guia para Famílias e Educadores”. São Paulo: Editora Contexto.

Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP). “Guia de Orientação para o Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH)”. Disponível em: https://www.sbp.com.br

Rede Autismo. “Meltdowns e Shutdowns no Autismo”. Disponível em: https://www.redeautismo.com.br

Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Entrar

Cadastrar

Redefinir senha

Digite o seu nome de usuário ou endereço de e-mail, você receberá um link para criar uma nova senha por e-mail.