Olá a todos!
Nesse artigo vamos falar de uma técnica revolucionária, que está sendo utilizada em muitos consultórios de terapeutas familiares, e também está sendo requisitada pelos Tribunais de Justiça de muitos estados (SP ainda não oficializou isso!), mas que tem ajudado muitas pessoas e famílias a entenderem melhor alguns problemas e conflitos, podendo lidar com eles antes que se instalem ou se agravem: as Constelações Familiares.
Na Terapia Sistêmica, concebe-se que cada ser humano não vem dos pais mas por intermédio dos pais. A criança deve sentir que tem direito de pertencimento (pertinência) ao grupo familiar.
Quando ela (ou alguém) é excluído(a) do sistema familiar, esse direito de pertinência é negado, e ela (ou esse indivíduo) perde também a posição de igualdade em relação aos outros membros da família.
Diversas forças atuam sobre o sistema familiar. A desunião, seja física ou emocional, causa o desequilíbrio dessas forças, resultando no adoecimento (ou ‘emaranhamento’) da família.
A Terapia Familiar Sistêmica é um procedimento em que o terapeuta pede para o sujeito montar a sua constelação familiar, mostrando os relacionamentos ou exclusões entre os membros da família.
Quando a pessoa excluída aparece no sistema, a imagem se transforma. O sujeito observa a imagem da constelação e o terapeuta o ajuda a encontrar a ordem.
Quando o sujeito utiliza pessoas para montar sua constelação familiar, em geral essas pessoas, mesmo desconhecidas e reunidas ali pela primeira (e talvez única) vez, costumam manifestar sentimentos semelhantes aos dos membros da família (alegria, proteção, medo, raiva, insegurança etc.) conforme o sujeito os representou na constelação.
Quando ocorrem conflitos entre os pais, a ponto de envolverem a criança nas discussões, críticas, comentários e até agressões, os filhos se sentirem culpados e se castigam por isso.
Essa culpa é decorrente do fato da criança se tornar confidente de qualquer dos pais (ou de ambos) e ser colocada em uma posição que não lhe pertence.
Conforme explica Hellinger (2007, p.24):
“(…) Então só existe uma solução para ele. Eu a chamo de ‘esquecimento espiritual’. O filho deve retrair-se totalmente desse conhecimento.”
Quando alguém é excluído do sistema familiar, perde o direito de pertinência, que é sentido também pela criança.
A perda do sentido de pertencimento ameaça a consciência tranquila de vinculação daquela criança à família, da criança saber exatamente o que fazer para agradar ao pai e à mãe.
A lacuna deixada pela exclusão de algum membro familiar causa na criança um ‘emaranhamento’, uma dificuldade de aceitar aquele(a) pai/mãe exatamente como é, sem julgamentos, exigências ou reivindicações.
A família pode provocar doenças, não porque sejam pessoas mãe, mas porque nela deixam de atuar forças, que por vezes são intergeracionais, que por vezes interferem em seus destinos.
O vínculo familiar faz com que os destinos sejam compartilhados por todos, e qualquer desequilíbrio exige uma necessidade de compensação em qualquer da(s) próxima(s) geração(ções).
Como preceitua Hellinger (2007, p.84):
“(…) quem combate o próprio pai se tornará forçosamente igual a ele. E quem combate a mãe se tornará forçosamente igual a ela. Existe uma bela frase de Maomé: “Quem acusa o próprio irmão de uma falta não morrerá sem antes cometer essa mesma falta” (…)”.
As Constelações Familiares também podem ser feitas com a utilização de bonecos ou figuras, quando há dificuldade da pessoa em vivenciar as constelações em um grupo (por exemplo, no trabalho terapêutico individual).
Segundo Graça (2015), o terapeuta deve observar os sistemas não de forma horizontal ou vertical mas em múltiplas conexões complexas de pertencimento, em função de um mapeamento das ‘lealdades vinculares invisíveis’.
As ‘lealdades’ e exclusões da criança a qualquer dos pais pressupõe a existência da polaridade relacional, onde um dos pais é visto como ‘vilão’ e o outro é ‘vítima’, e isso deve ser alterado.
O posicionamento dos bonecos mostra a representação mental e a cognição social das interações. As alterações das posições dos bonecos põem mudar a imagem interna relacional e trazer ao cliente lembranças de histórias e envolvimentos.
Tanto nas Constelações com pessoas como com bonecos, o terapeuta propõe a modificação da imagem até que todas as pessoas se sintam bem e satisfeitas. Como explica Hellinger (2007, p.29):
“(…) Na terapia familiar, a solução é aquela que satisfaz a todos os membros da família; quando cada um está no lugar certo, aceita o lugar que lhe cabe e onde deve ficar, ocupando sua posição sem interferir na vida dos outros. Então, todos veem reconhecida a sua própria dignidade e se sentem bem. Essa é a solução.”
Da mesma forma como é aplicada em terapia clínica, não é difícil pensarmos neste procedimento para ajudar famílias em conflitos familiares, como divórcios, acusações de abuso sexual (verdadeiros ou fictícios) e alienação parental.
A exclusão de qualquer membro, geralmente o pai, por acusação de abuso sexual (verdadeira ou fictícia), ou atos de alienação parental do(a) genitor(a) guardião(ã) provoca uma lacuna na consciência da criança, consciência essa que fica alterada em função do ‘pacto de lealdade’ que é forçada a formar com o(a) alienador(a) e a ‘lavagem cerebral’ que ele(a) incute contra o(a) outro(a) genitor(a) afastado(a).
A criança pode sentir-se culpada pelo afastamento do(a) genitor(a), e manifestar sintomas psicossomáticos (como vômitos, enurese, dores musculares) para lidar com a culpa e tentativas de elaboração da situação.
Pode ficar com raiva de não ter as respostas para suas perguntas sobre o motivo da separação e afastamento, e fazer exigências e cobranças contra o(a) pai/mãe afastado(a), e com isso se recusa a aceitá-lo(a) como ele(a) é – e não aceita a si mesma, formando os ‘emaranhamentos’.
A tendência é repetir os acontecimentos de sua atual família no futuro, reproduzindo com o(a) atual cônjuge os atos de alienação parental que seu pai (sua mãe) fazia com o(a) outro(a).
Mais grave ainda é quando todas essas vivências decorrem da crença equivocada de que foi vítima de algum abuso (físico/sexual) fictício, incutido por terceiro que queira manter com ele o ‘pacto de lealdade’ e reforçar a exclusão daquele(a) membro da família.
O serviço de Constelações Familiares pode ser oferecido aos Tribunais de Justiça estaduais, para que os terapeutas prestem esse atendimento às famílias, encaminhadas por sugestão dos Setores Técnicos ou de forma voluntária.
Mas, para isso, o terapeuta, além de conhecer as técnicas da Constelação familiar, deve também conhecer da dinâmica familiar em casos de rompimentos conjugais, famílias-mosaico e multiparentalidade, bem como de Alienação Parental e das acusações de abuso sexual (verdadeiras e/ou fictícias, estas últimas usadas como recurso inescrupuloso de Alienação Parental).
Referências Bibliográficas:
GRAÇA, M.H. Constelações familiares com bonecos e os elos de amor que vinculam aos ancestrais. 2. ed. Curitiba: Juruá, 2015.
HELLINGER, B. Constelações Familiares. O reconhecimento das ordens do amor. São Paulo: Cultrix, 2007.
(Excerto da obra: SILVA, D.M.P. Psicologia Jurídica no Processo Civil Brasileiro – v.02: Questões dos Litígios Familiares em Varas de Família. 4. ed. Curitiba: Juruá, 2019)
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