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Como a quarentena está afetando as relações conjugais?

Será que é somente o estresse com as preocupações com a pandemia exasperam os sentimentos com facilidade?
Como a quarentena está afetando as relações conjugais

A quarentena está afetando as relações conjugais? São Paulo, assim como muitos municípios brasileiros, está vivenciando a quarentena desde 16/03/2020, com medidas de isolamento social e restrição à circulação.

A principal recomendação das autoridades de saúde é “FICAR EM CASA”, para conter a velocidade de propagação do Coronavírus e não colapsar os já sucateados sistemas de saúde.

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O isolamento social no recinto doméstico vem causando uma série de efeitos psicológicos importantes: ansiedade, depressão, angústias, irritabilidade, desorganização, por vezes tédio e ociosidade (achar que ‘não tem nada interessante para fazer’).

Sim! As relações conjugais também ficam comprometidas

Os pais estão enfrentando dificuldades em conciliar horários de trabalho com os estudos online dos filhos, tarefas domésticas, queda de renda familiar, insegurança quanto ao trabalho e emprego.

A energia das crianças, bem como a inquietação de não entender por quê não podem ir para a escola, descer ao parquinho, viajar, ver os avós, encontrar os amiguinhos, desfiam a paciência dos pais.

As relações conjugais também fica comprometida: quando o casal começa a brigar muito por causa dos problemas financeiros, preocupações com o futuro do emprego, com a ‘chatice’ das tarefas domésticas, as oscilações emocionais de um e de outro, a tendência é um ou outro caminho: a violência doméstica ou a separação.

Violência doméstica na quarentena

A violência doméstica costuma ser o caminho mais ‘frequentado’: teve sua causa equivocadamente associada à quarentena, mas ocorre que já encontrávamos números diários alarmantes de violência doméstica contra mulheres e feminicídio desde o começo do ano passado, e nem se falava ainda de Coronavírus.

Em relação à violência contra crianças, mais ainda: parece que só se fala da violência contra a mulher porque é menos frequente do que a violência contra crianças, porque é cultural ‘bater’ nos filhos.

A punição penal só acontece se o castigo for “imoderado”. Mas, como mensurar um “castigo imoderado”?

E quando pensamos que dia 18 de maio foi o Dia Internacional de Combate à Pedofilia e Exploração Sexual de Crianças sem nenhuma menção na imprensa ou nas instituições públicas, vemos o quanto a violência doméstica contra crianças ainda não recebeu a devida atenção da sociedade.

O que vem acontecendo ultimamente é que a quarentena vem desafiando nossa capacidade de tolerância e paciência, e daí a perder o controle da raiva e partir para a agressão física, ou mesmo violência sexual (estupro, abuso sexual de criança), é um instante!

O confinamento doméstico intensifica a ansiedade, a depressão, as angústias, e qualquer gesto ou palavra do outro é suficiente para desencadear o comportamento violento.

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Existem situações de emergência, em que a mulher fica obrigada a conviver com o agressor em confinamento doméstico, sem possibilidade de pedir ajuda.

Por isso foram disponibilizados vários recursos, como aplicativos de celular, telefones de emergência, e incentivo a que vizinhos e familiares da vítima tomem providências de auxílio, bem como mais abrigos e locais para os quais a mulher possa se deslocar com os filhos para se proteger da violência doméstica.

Separações e divórcios durante o isolamento social

Os divórcios têm sido menos frequentes mas, segundo informações do site Conjur (de 24/05/2020), isso ocorre devido à suspensão das atividades dos cartórios (exceto para expedição de certidões de nascimento e de óbito, que são urgentes) e dos prazos processuais no Judiciário (os processos digitais ficaram suspensos até 04/05 e os processos físicos ainda estão suspensos até 31/05).

Torna-se mais viável a saída informal de qualquer dos cônjuges, sem comunicação ao cartório e/ou ao Judiciário.

E aí surgem as perguntas inevitáveis de quem lida com as relações familiares? O que faz aquela relação contínua se tornar ‘insuportável’?

Será que é somente o estresse com as preocupações com a pandemia, o futuro, a saúde, a renda que exasperam os sentimentos e fazem as pessoas perderem a paciência com facilidade?

Ou é a descoberta de aspectos negativos da personalidade em si mesmo(a) ou no(a) outro(a), com os quais se torna difícil lidar?

Sabemos que muitos casais se juntam com um determinado propósito, mas acabam perdendo esse objetivo, mudando de interesses, descobrindo outras possibilidades, e a relação conjugal acaba deixada de lado.

Em outras vezes, a situação financeira obriga cada um a se priorizar seus trabalhos, e o estresse laboral faz com que fiquem o dia todo fora de casa, com pouco tempo de convivência e diálogo, e a relação acaba de tornando uma ‘solidão a dois’.

O que fazer nesses casos?

Parar, respirar fundo, discutirem juntos como está a situação atual e como podem fazer para se auxiliarem.

Se entenderem que a separação é a melhor solução, que seja de forma consciente, responsável, amadurecida, ‘civilizada’, com o mínimo de traumas e prejuízos para os filhos (se tiverem).

Mas, se entendem pela permanência, é interessante que cada um planeje a sua forma de colaboração, organização das tarefas, a conciliação dos horários de atividades, brincadeiras com os filhos, e descanso.

Quando perceberem que o estresse está começando a afetar as relações conjugais e doméstico, evitem discussões, ‘deem um tempo’, falem que conversam melhor em oportunidade menos estressante (porque a chance de falaram alguma coisa da qual irão se arrepender, se estiverem exaltados, será enorme!).

Não fiquem usando os filhos como ‘terapeutas’ ou ‘confidentes’. As crianças, em qualquer idade, devem ser afastadas dos conflitos conjugais.

Até doenças físicas podem aparecer nelas se presenciarem os pais brigando com frequência e/ou por motivos banais, porque estão estressados com o confinamento doméstico, as preocupações financeiras e com as relações.

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Nenhum filho tem obrigação de ‘cuidar dos pais’, e os pais também serão exemplos positivos se demonstrarem que a ajuda dos filhos virá com a cooperação – cada um fazendo a sua parte dentro de suas capacidades, e não com ‘tomar conta’ dos pais.

É isso, espero que tenham apreciado o artigo e que lhes tragam importantes reflexões.

VAI PASSAR! Vamos conseguir sair dessa juntos!

CUIDEM-SE! Saúde é o mais importante!

Referências Bibliográficas:

CONJUR. Divórcios operam de forma excepcional por conta da quarentena. 24/05/2020. Disponível em: https://www.conjur.com.br/2020-mai-24/divorcios-operam-forma-excepcional-conta-quarentena.

CNJ. Processos de violência doméstica e feminicídio crescem em 2019.

MARQUES, E.S.; MORAES, C.L.; HASSELMANN, M.H.; DESLANDES, S.F.; REICHENHEIM, M.E. A violência contra mulheres, crianças e adolescentes em tempos de pandemia pela COVID-19: panorama, motivações e formas de enfrentamento. Cadernos de Saúde Pública. Rio de Janeiro, v.36, n.4, p.01-06, 2020. Disponível em: https://www.scielo.br/pdf/csp/v36n4/1678-4464-csp-36-04-e00074420.pdf. Acesso em: 15 maio 2020.

REICHENHEIM, M.E.; HASSELMANN, M.H.; MORAES, C.L. Conseqüências da violência familiar na saúde da criança e do adolescente: contribuições para a elaboração de propostas de ação. Ciência & Saúde Coletiva. Rio de Janeiro, v.4, n.1, p.109-121, 1999. Disponível em: https://www.scielo.br/pdf/csc/v4n1/7134.pdf. Acesso em: 15 maio 2020.

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Sobre o autor(a)

Denise M. Perissini

Denise M. Perissini

Psicóloga clínica e jurídica. Coordenadora da Pós Graduação em Psicologia Jurídica na UNISA e professora na UNISÃOPAULO. Autora de livros e artigos de Psicologia Jurídica de Família.
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