Olá a todos,

No artigo de hoje quero tratar do filme “Kramer x Kramer”, um clássico indispensável quando se quer falar de separação conjugal, cuidados com os filhos após a separação, papeis paternos e maternos, disputa de guarda.

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Ted Kramer é um publicitário em ascensão, enquanto sua esposa Joanna ficava em casa cuidando do filho.

Ela se sente frustrada com diversos projetos não realizados, a falta de diálogo com o marido, e decide abandonar o lar, deixando o filho com ele.

No começo, Ted fica muito irritado de ter que cuidar do filho sozinho.

Não consegue organizar os horários da escola, não tem paciência com a criança, demonstra falta de habilidade em lidar com as tarefas domésticas.

Ele não valorizava isso na esposa, achando que ela tem obrigação de fazer tudo isso “porque é a mãe”.

Mas os meses vão passando, sem contato da esposa, e Ted vai aos poucos se organizando após a separação para conciliar a vida pessoal com o filho com o novo emprego (porque ele foi demitido da agência onde trabalhava, por ter que se dedicar ao filho).

A criança também tem diversos problemas de entrosamento com o pai.

Primeiro sente falta da mãe, chora, diz que ‘odeia’ o pai, mas quando ele começa a se dedicar ao filho, os dois vão ajeitando o relacionamento.

Depois de 18 meses a esposa retorna, diz que conseguiu um emprego em outra cidade e quer levar o filho consigo.

O cinema imitando a vida

Ele se recusa, e ela então decide levar o caso ao Judiciário.

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Aspectos a destacar, na cena da audiência de custódia da criança.

Fala do pai: “Por que a mãe é ‘naturalmente’ melhor para cuidar da criança, em decorrência do sexo? Um pai pode ser tão dedicado ao filho quanto qualquer mãe”.

Fala da mãe: “Por que uma mãe não pode ter ambições além da vida doméstica? “

Por que a realização pessoal de uma mulher depende exclusivamente da maternagem?

  • Frustrações com a não-realização profissional.
  • Frustrações com o distanciamento afetivo do marido.
  • Desvalorização, sobrecarga de trabalho doméstico

A desconstrução do “mito do amor materno”

Elizabeth Badinter (1985) faz uma desconstrução do “mito do amor materno”, trazendo documentos que comprovam que a maternidade é uma construção histórica.

Até o século XVIII as mães francesas não se importavam com os filhos, entregando-os a amas de leite, não se comovendo se os filhos morressem.

Somente após a leitura de “Émile”, de Rousseau, com regras claras de como deve ser a “mãe perfeita”, é que as mulheres francesas – entenda-se, as de classe média – passaram a seguir as orientações de como se comportarem e como cuidarem adequadamente dos bebês.

As mulheres camponesas e trabalhadoras braçais continuavam entregando os bebês a amas de leite ou abandonando-os. Porque tinham que ajudar os maridos na lavoura ou tarefas.

Enquanto as de classe alta nem sequer se interessavam na maternidade porque iria “atrapalhar” a vida social, em bailes e festas.

A monarquia também não cuidava dos filhos: entregava os bebês a amas de leite e só os recebia nos palácios depois de muitos anos.

Acreditava-se que era obsceno a uma rainha expor o seio para amamentar um bebê, isso seria considerada uma tarefa “subalterna”, indigna da posição social.

Estereótipos sociais presentes desde o século XIX

Foi a partir do século XIX, com a Revolução Industrial e a formação da classe burguesa, que se estruturaram os papeis sociais conforme o gênero dos pais:

  • Homem sai de casa para trabalhar o prover o sustento da família;
  • Mulher fica em casa e cuida da higiene da casa, cuidados e educação dos filhos.

Ainda internalizamos esses estereótipos: quando uma menina faz aniversário, o que costumamos dar de presente para ela?

Ainda internalizamos o estereótipo de associar a “maternidade” com “realização pessoal da mulher”.

Fazemos cobranças sutis ou explícitas (conscientes ou inconscientemente): “Já têm filhos? Quando vão nascer” a uma mulher que tenha acabado de se casar ou que esteja na faixa dos 30 anos.

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Menosprezamos aquelas que não desejam ter filhos, e “linchamos” aquelas que tenham pedido separação, abandonado ou matado seus próprios filhos, sem considerar determinadas circunstâncias que tenham influenciado nessa decisão ou atitude extrema.

Moscovici (2015) nos fala em “representações sociais”, que são um conjunto de crenças, valores, padrões morais, religiosos, estruturados em um grupo social e internalizados em cada um dos indivíduos.

E, que se tornam tão “fossilizados” (palavras do autor) quanto menos temos consciência de sua origem e as repetimos acriticamente.

O “instinto maternal” é uma dessas “representações sociais”, reproduzidas acriticamente.

Influenciam decisões equivocadas de “guarda materna” após o rompimento familiar (divórcio, rompimento da união estável) sem considerar determinadas especificidades e circunstâncias.

Fazendo com que as mães após a separação se tornem detentoras de guarda unilateral e com isso se tornam as principais agentes da alienação parental, conforme já falei em outro artigo nesta Coluna.

É isso, espero que tenham apreciado o artigo, e aproveitem a oportunidade para (re-)ver esse filme.

Cuidem-se! Vai passar!

Filme: KRAMER x KRAMER
Direção e roteiro Robert Benson
Elenco: Dustin Hoffman, Meryl Streep, Jane Alexander
Nacionalidade: EUA
Gênero: Drama
Duração: 1 h e 45 min.

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