Em 2019, o Brasil ficou em 68º lugar como o país mais seguro em escala mundial, o que reflete o quanto a pátria amada tem se tornado cada vez mais violenta.
Tendo isso em mente, é importante discutir que o Brasil é o país que mais mata a população trans e travesti, sendo a expectativa de vida de 35 anos de idade.
Quando se fala em assassinatos de pessoas trans e travestis em nosso país, já devemos refletir sobre a forma como estes casos são notificados e vistos pela política atual.
Ainda em relação à forma como os dados sobre este assunto são tratados, as próprias informações obtidas para este texto, foram retirados do boletim 03/2020 sobre “Assassinatos Contra Trans e Travestis em 2020” realizado pela Associação Nacional de Travestis e Transexuais – ANTRA, pois esses dados não são contabilizados ou divulgados de forma ampla pelo governo brasileiro.
Então mesmo com números altos, deve-se levar em consideração a possibilidade de haver inúmeros casos subnotificados, não mostrando toda a realidade vivenciada.
Na pandemia do Covid-19
A realidade de convívio social, em meio à pandemia, já se tornou alvo de muitos pesquisadores no âmbito mundial, pois ocorreram mudanças bruscas como: isolamento social, quarentena, aumento nas taxas de desemprego, número de mortos por COVID-19, aumento nos casos de transtornos mentais, entre outros.
Porém, além de toda essa realidade advinda da pandemia, ainda se tem o aumento de 90% no número de assassinatos em mulheres trans e travestis quando comparado ao ano de 2019.
Desde janeiro até o mês de junho do ano de 2020, período em foi realizado o levantamento de dados, foram notificados 89 assassinatos de mulheres trans e travestis, já sendo considerado um dos maiores números dos últimos 4 anos no Brasil.
Além disso, muitas dessas mulheres acabaram por perder ou ter uma diminuição significativa de sua renda.
A grande maioria não possui trabalhos formais e muitas trabalham como profissionais do sexo, o que pode ocasionar uma possibilidade de exposição à situação de risco de contaminação por COVID-19 ou perda total de sua renda, ambos podem suscitar em morte ou uma saúde mental não saudável.
Saúde mental de trans e travestis
O que devemos focar a nossa atenção é no fato da mídia não falar sobre esse assunto e o governo não propor políticas públicas que de fato sejam aplicadas e cumpridas para essa população.
Viver em constante medo e perigo de morte apenas por sair de sua casa para buscar o próprio sustento, não é fácil.
Grande maioria das pessoas transexuais e travestis não possui apoio de sua família biológica, foi expulso de casa e deve lidar com a sociedade transfóbica a todo instante.
Ainda olhando para este período do primeiro semestre de 2020, já houve 14 casos notificados de suicídio, o que durante o ano inteiro de 2019, foram 17 casos, aqui se faz presente um número significativo de homens transexuais que cometeram suicídio.
São inúmeras situações que podem levar a essa saúde mental não saudável.
Às vezes por conta da baixa escolaridade e falta de apoio de outros profissionais da saúde, essa população não sabe onde ou como procurar acompanhamento psicológico.
Além de haver pouco ou nenhum conhecimento ou preparo geral para atender a essas demandas que promovam inclusão, respeito e um ambiente livre de transfobia.
Observa-se aqui, além da problemática em relação atual governo, como a psicologia está lidando e abordando essas situações.
Grande parte dos atendimentos em meio à pandemia ocorre de forma online, porém, essa realidade de ter um aparelho eletrônico e com acesso à internet não é realidade de todos.
O que provavelmente está relacionado a situações de vulnerabilidade e extrema pobreza da população trans e travesti.
É extremamente necessário que esse assunto seja abordado pelos profissionais da saúde mental de forma ativa na sociedade, pontuando em formas e possibilidades para que essa população tenha acesso aos serviços de psicologia e facilitando o acesso a outras áreas da saúde.
Deve-se olhar para as situações de vulnerabilidade e pensar em como podemos atuar nesse campo e com esta população.
Referência Bibliográfica
ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE TRAVESTIS E TRANSEXUAIS. Boletim Nº 03/2020: Assassinatos Contra Travestis e Transexuais em 2020. 2020. Disponível em: https://antrabrasil.files.wordpress.com/2020/06/boletim-3-2020-assassinatos-antra.pdf. Acesso em: 15 de agosto de 2020.
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