Em pouco mais de dois meses e meio, saímos da alegria com confete e serpentina presente no mês do Carnaval para rapidamente vivenciarmos o medo diante de um vírus novo e uma imensa crise de saúde mental.
Do primeiro caso no Brasil até o obrigatoriedade do isolamento social, o “grande inimigo invisível” passou a ser uma preocupação constante e diária em poucos dias.
“O isolamento, o medo, a incerteza, a turbulência econômica – todos causam ou podem causar problemas psicológicos”
(Devora Kestel – diretora do departamento de saúde mental da OMS)
A saúde mental no Brasil tem sido um “artigo de luxo” para poucos, pois, ainda não há clareza da importância concepção de ser humano por uma perspectiva biopsicossocial.
Porém, como lidar com o isolamento social sem cuidar da saúde mental sabendo que a morte “tem saindo” dos dados estatísticos da tv e atingido os bairros, os familiares, colegas de trabalho, amigos ou vizinhos?
E os profissionais essenciais?
Como será ter que dar continuidade a sua rotina de trabalho com o medo de se contaminar ou ser o responsável por contaminar seus entes queridos?
Saúde mental: Uma crise dentro da crise
Todos esses fatores geraram mudanças tão drásticas que muitos estudiosos estão comparando a pandemia do coronavírus com cenários de guerras.
Há fortes indícios que indicam a aproximação com uma crise da saúde mental em todo mundo, com efeitos severos em países que sucateiam e inferiorizam medidas em prol da saúde.
“Após décadas de negligência e de investimento insuficiente em serviços de saúde mental, a pandemia está a atingir famílias e comunidades com um estress mental adicional.”
(António Guterres – secretário-geral da ONU)
Vale a pena lembrar que, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) o termo saúde é definido como “um estado de completo bem-estar físico, mental e social e não apenas a ausência de doença ou enfermidade”.
Ao mesmo tempo que a maioria das pessoas procuravam assimilar as mudanças referente ao distanciamento social, milhares de pessoas viram-se lançadas a solidão, a ansiedade devido ao constante do risco de morte.
De acordo com pesquisas realizadas pela International Stress Management Association (ISMA-BR), aproximadamente 30% dos mais de cem milhões de trabalhadores brasileiros sofrem da Síndrome do esgotamento profissional causada por estress.
Profissionais como bombeiros, professores e enfermeiros vivenciam altos níveis de estresse devido as más condições de trabalho, má remuneração, pressão e cargas horárias extenuantes, levando-os ao burnout.
“Mesmo quando a pandemia estiver sob controle, luto, ansiedade e depressão continuarão afetando pessoas e comunidades “
(António Guterres – secretário-geral da ONU)
Mas diante do panorama atual com tamanha incerteza mundial muitas pessoas poderão sobre de depressão, ansiedade e até mesmo Transtorno do estresse pós-traumático (TEPT).
O Transtorno do estresse pós-traumático pode resultar da exposição uma situação traumática caracterizado por três fatores: revivência do trauma, hiperestimulação autonômica e esquiva diante de qualquer estímulo que lembre o evento.
Veja abaixo algumas reações comuns para TEPT:
- sensação de anestesiamento;
- ansiedade e culpa
- irritabilidade e raiva
- tristeza
- negação
- isolamento social
- abuso de álcool ou drogas
- fadiga e insônia
- alteração do apetite
- transpiração intensa e tremores
- confusão mental
- medo de morrer
- dificuldade de concentração e tomada de decisão
- estado de alerta constante e não consegue relaxar
- pensamentos intrusivos, dentre muitos outros.
Entre “mortos e feridos” haverão os sobreviventes
Serviços de saúde mental são parte essencial de todas as respostas governamentais à covid-19. Eles devem ser ampliados e totalmente financiados.”
(António Guterres – secretário-geral da ONU)
Ainda não sabemos quando efetivamente será criada uma vacina contra o covid-19, entretanto, cientistas alegam que demorará cerca de um ano para produzi-la.
Se estamos distantes do fim do isolamento social e também da cura para o coronavírus, é necessário que possamos prever os prejuízos físicos e psicológicos para a população brasileira.
A história nos mostra os horrores das guerras que ocorreram no século XX.
Por isso, é preciso pensar nos caminhos que queremos construir para amenizar ao máximo o período vivenciado até o fim da pandemia.
Os esforços e cuidados serão os mesmos conhecidos no pós-guerra. Perdas irreparáveis de entes queridos, abalo infernal da economia, altos índices de desemprego, aumento dos problemas sociais e sobreviventes que nunca mais viverão “como era antes”.
Além de iniciativas da sociedade civil ou pequenos grupos de psicólogos e psicanalistas em busca de ações que viam a promoção e prevenção da saúde mental, será necessário que haja mobilização governamental.
Por fim, o secretário-geral da ONU Guterres afirmou que “as Nações Unidas estão fortemente comprometidas em criar um mundo em que todos, em qualquer lugar, tenham alguém a quem recorrer para ter apoio psicológico”.
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