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Um shortinho tipo Anitta: a culpabilização da mulher por uma sociedade machista!

Mulheres passam por isso todos os dias nas ruas, nos coletivos, escolas e bares. Será que a culpa é realmente do short?
Um shortinho tipo Anitta a culpabilização da mulher por uma sociedade machista!

Recentemente um vídeo viralizou nas redes sociais onde uma garota de dezessete anos denunciava o assédio de um motorista de aplicativo. Em uma atitude mais machista ainda, o motorista justificou o assédio cometido dizendo que a menina usava um shortinho “tipo Anitta”.

Essa talvez tenha sido a afirmação que fez o caso chegar a conhecimento do grande público. A própria cantora Anitta deu visibilidade ao vídeo comentando nas suas redes sociais que nenhuma roupa curta ou longa justifica assédio.

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Mas o que caracteriza o assédio? No dicionário assédio é a insistência impertinente, perseguição, sugestão ou pretensão constante em relação a alguém.

Dentro da categoria, o assédio se caracteriza:

  • Assédio moral: perseguição, coerção e desonra da imagem da vítima);
  • Assédio verbal: xingamento, vaias, insultos, provocações etc.;
  • Assédio virtual: que se dá por meio de redes sociais, onde se persegue e difama a vitima;
  • Assédio psicológico: comportamentos ofensivos, intimidatórios, persistentes, insultuosos, abusivos, e até mesmo por meio do abuso de poder;
  • Assédio sexual: é qualquer insistência em querer contato ou flerte com alguém que não esteja a fim.

O impacto dessa postagem escancara o machismo exacerbado que ainda existe na nossa sociedade. É realmente melancólico ler nos comentários tantas pessoas justificando a atitude do homem em detrimento a opinião (e vídeo comprobatório) da menor.

Desde comentários que relacionam o uso de roupa diminuta a vontade que a vítima manifesta de ser assediada, a comentários esdrúxulos que tentavam “justificar” relatando que a garota estava “gostando” do assédio por ter filmado a agressão em vez de pedir para parar ou sair correndo.

O mais triste é perceber que vários desses comentários vêm de mulheres que foram instruídas por pessoas machistas, numa sociedade machista, mulheres que sofreram assédio, cujas mães sofreram assédio, que ainda são mães de meninas que sofreram ou sofrerão assédio, cujas avós sofreram assédio, numa triste herança de violência sexual.

Uma sociedade machista

No caso do vídeo a garota que sofreu o assédio sexual, fala para o motorista que é “menor”, e que ele tem idade para ser o pai dela. Mesmo assim, ele continua.


“…no assédio a gente sente repulsa e medo.”


Historicamente na sociedade patriarcal esse comportamento e bastante tolerado quando se trata dos homens.

Em um país onde uma mulher é estuprada a cada onze minutos o assédio é e será sempre uma ameaça a nossa integridade física.

Uma paciente certa vez ilustrou bem esse sentimento ao me dizer: “Imagine você andando na rua com um Iphone de última geração na mão, agora imagine que você é o próprio Iphone… no assédio a gente sente repulsa e medo”.

Mulheres de todas as idades continuam vítimas de homens que em plena década de 2020 ainda acreditam que a roupa, forma de sentar, cor do batom ou mesmo o sorriso diz sobre a moral e desejo de uma mulher de ser assediada, importunada ou mesmo estuprada.

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Recentemente tive conhecimento de uma menina de treze anos que um primo maior de idade a agarrou e beijou-a a força.

A menina ficou tão constrangida que demorou meses para contar para a mãe. No caso não houve testemunhas e o rapaz negou o acontecido.

Quando a história veio a tona, parte da família automaticamente se colocou a favor do rapaz sem dar a vítima nem ao menos o benefício da dúvida, a garota ainda precisou ouvir que usava roupas curtas, que ela é que estava pedindo, ou que ela gostou porque demorou muito pra falar, colocando o rapaz
como um coitado, vítima de assédio de uma menor de idade.

O mais inimaginável é que ninguém viu, como que automaticamente tomam partido á favor do homem? Até quando seremos obrigadas a ouvir essas coisas?

Até quando um homem terá mais moral que uma mulher frente a uma acusação de assédio? Até quando teremos culpa pelos crimes dos homens?

Cientistas afirmam que biologicamente nós mulheres temos tantos desejos sexuais que os homens (visto que a natureza visa à procriação).

Uma cultura ainda machista

Mas nós mulheres fomos ensinadas pela cultura a não expressar esses desejos, em contrapartida os homens são encorajados a expressá-los desde muito cedo.

Mesmo com o peito desnudo e uma bermuda apenas, com músculos a mostra é raríssimo um homem ser assediado na rua, as mulheres podem até sentirem desejo, mas não é comum saírem importunando homens desconhecidos por aí.

Lembro-me bem do meu primeiro assédio, ia fazer ainda doze anos quando me chamaram de “gostosa” na rua. Eu não entendia nada disso e parei para perguntar o que o homem barbudo queria dizer.

Minha amiga que era mais velha me puxou pela mão e me fez correr até a porta da escola. Lembro-me até hoje a roupa que eu usava, (por muito tempo achei que a culpa era da roupa) saia amarela até o joelho e camiseta do uniforme
escolar.

Tantos anos depois eu e milhares de outras mulheres e meninas continuamos ouvindo palavras obscenas e galanteios baratos de homens que muitas vezes nunca nos viram, ou pior ainda, quando se trata de conhecidos e/ou familiares.

Deixo aqui um recadinho para os assediadores de mulheres e menores de plantão que acham que um shortinho “tipo Anitta” é coisa de mulheres que não se dão ao respeito: Não espere as mulheres se darem ao respeito.

Respeito ninguém dá, é você quem tem que cultivar. O shortinho “tipo Anitta” não pediu assédio, da mesma forma que o batom vermelho ou o decote também não.

Recentemente vi um post no Facebook (Camila Bitencourt) que simulava conversa de algumas peças de roupa:

A culpa realmente foi minha? Perguntou a minissaia.

Não! respondeu a burca. Aconteceu comigo também.

E a fralda nada disse, porque não sabia ainda falar.

(Camila Bitencourt – fonte: Facebook)

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Sobre o autor(a)

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Luciana Santos

Psicóloga e Analista Comportamental apaixonada por pessoas e seus comportamentos anseia por levar a conhecimento ajudando as pessoas a resolverem seus problemas diários.
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