Estamos no mês da consciência negra, ocasião mais do que propícia para olhar nossa trajetória de descendentes de escravizados no continente africano.
Fomos submetidos aqui no Brasil, e em outros lugares do mundo, a tratamento onde nos foi negado a humanidade.
Em nosso pais foram quatrocentos anos de escravização.
Nesse momento, refletindo a respeito de inumeráveis dificuldades, temos algumas conquistas a considerar, embora o caminho para a igualdade ainda esteja distante de ser concluído de maneira que a igualdade seja realmente considerada e consolidada.
Observamos o movimento negro e o feminismo negro, deslocando-se positivamente.
Demostrando a uma sociedade de formação racista, que enquanto as desigualdades não forem neutralizadas não nos descolaremos desse perfil equivocado de democracia racial.
Refletindo sobre o tema penso que através das palavras e seus significados ajudamos no entendimento do que pode ser essa construção difícil de variadas nuances.
O que para uma pessoa significa demonstração clara de racismo, para outra significará apenas preconceito social ou qualquer outra coisa que importe menos, desqualificando e minimizando um tema importante.
Empatia: É fundamental conhecer o real significado desta palavra
Para trabalhar a eliminação do racismo uma ferramenta importante é entender e desenvolver o conceito de uma palavra que está na moda: empatia.
No dicionário encontramos definição extensa de empatia, desde ser a ação de se colocar no lugar de outra pessoa, buscando agir ou pensar da forma como ela pensaria ou agiria nas mesmas circunstâncias.
Aptidão para se identificar com o outro, sentido o que ele sente, desejando o que ele deseja, aprendendo da maneira como ele aprende etc.
Na psicologia é a identificação de um sujeito com outro; quando alguém, através de suas próprias especulações ou sensações, se coloca no lugar de outra pessoa, tentando entendê-la.
Sororidade & Dororidade
Mulheres praticam empatia entre si, que é a sororidade.
A relação de irmandade, união, afeto ou amizade entre mulheres, assemelhando-se àquela estabelecida entre irmãs.
União de mulheres que compartilham os mesmos ideais e propósitos, normalmente de teor feminista, sendo caracterizada pelo apoio mútuo evidenciado.
Mulheres pretas sentem dororidade, que para explicar cito Vilma Piedade, inventora do conceito e autora de livro com o mesmo nome.
Dororidade carrega no seu significado a dor provocada em todas as Mulheres pelo Machismo.
Contudo, quando se trata de Nós, Mulheres Pretas, tem um agravo nessa dor.
A Pele Preta ainda continua sendo a mais barata do mercado. É só verificar os dados…
A Sororidade parece não dar conta da nossa pretitude.
Foi a partir dessa concepção que pensei em outra direção, num novo conceito que, apesar de muito novo, já carrega um fardo antigo, velho conhecido das mulheres: “a Dor – mas, neste caso, especificamente, a Dor que só pode ser sentida da cor da pele. Quanto mais preta, mais racismo, mais dor.”
O racismo não é empático. Pessoas racistas não expressam sororidade. Menos ainda dororidade.
São sentimentos que necessitam de intersecção para serem exercidos.
Seria bastante interessante que toda a empatia recebida durante o mês da Consciência Negra, permanecesse o ano inteiro.
A sociedade precisa entender que quem suporta racismo não recebe empatia, sororidade e muito menos dororidade.
Separo essa questão em duas partes:
A primeira, seria refletir como mulher negra submetida ao racismo e ao machismo, que gostaria de ser entendida e acolhida em questões importantes que me atravessam em decorrência de toda a hostilidade recebida, gerada por essa condição.
A segunda é do lugar psicóloga clínica e da importância do psicólogo ser empático.
A partir da observação da falta de percepção mais delicada, afinada, de colegas brancos que não apreendem a subjetividade das emoções de pacientes que apresentam esse sofrimento.
Por vezes as camadas emocionais são sobrepostas. Elas necessitam de reconhecimento e tratamento empático.
Conhecer o sentido das palavras e fazer com que o exercício de seu significado produza efeitos positivos, é empatia.
Entender que o mês da Consciência Negra é importante para que a sociedade entenda e se aposse da causa essencial que proporcionará reconhecimento e desenvolvimento de mais de 54% da população, é empatia.
Isto envolverá como vimos, sororidade, dororidade e mais o que puder contribuir para o tratamento da questão tão delicada que é o racismo.
Empatia, sororidade, dororidade e eventos que ocorrem no mês da Consciência Negra são ferramentas potentes, capazes de nos levar a igualdade sem que levemos em conta classe social, sexo, gênero, origem, religião etc.
O mês da Consciência Negra é movimento de empatia que precisa ser entendido, exercido e estendido.
Tudo que pode ser referenciado para transformar nossa sociedade em um lugar mais justo e confiável será válido e nos fortalecerá particularmente como pessoas e generalizadamente como sociedade.
Referências:
Dicionário On Line da Língua Portuguesa
Dororidade – Vilma Piedade
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