Autismo na terceira idade: a importância do diagnóstico, mesmo que tardio
Uma condição que vai além da infância O autismo é uma condição neurológica que afeta a maneira como uma pessoa percebe o mundo e se relaciona com ele. Por muito tempo, acreditou-se que o transtorno do espectro autista (TEA) era diagnosticado principalmente na infância, mas a realidade é que muitas pessoas chegam à terceira idade sem nunca terem recebido um diagnóstico correto. O autismo em adultos mais velhos é, em muitos casos, descoberto tardiamente, frequentemente após décadas de luta para se adaptar a um mundo que nem sempre compreendiam e que raramente os compreendia. Por que o autismo na terceira idade está ganhando atenção O autismo na terceira idade é um fenômeno que vem ganhando atenção recentemente. Isso ocorre porque, em gerações passadas, o conhecimento sobre o espectro autista era limitado e o diagnóstico muitas vezes dependia de sinais claros e evidentes, como dificuldades de comunicação ou comportamento repetitivo. Pessoas com características menos marcantes ou que desenvolveram estratégias de enfrentamento para mascarar seus desafios frequentemente passavam despercebidas. Essas pessoas, agora idosas, viveram grande parte de suas vidas sem entender por que enfrentavam dificuldades em áreas que pareciam simples para os outros. O impacto de um diagnóstico tardio O impacto de uma descoberta tardia pode ser profundo. Para muitos idosos, receber um diagnóstico de autismo traz um misto de alívio e frustração. De um lado, há a sensação de finalmente encontrar uma explicação para décadas de experiências desafiadoras, como dificuldades em manter relacionamentos, lidar com mudanças ou interpretar normas sociais. De outro, surge o questionamento de como a vida poderia ter sido diferente se o diagnóstico tivesse sido feito mais cedo. Muitos relatam que o diagnóstico na terceira idade ajuda a dar sentido à própria história, conectando pontos que antes pareciam desconexos. Exemplos de sinais de autismo em idosos Após perceber os sinais na minha própria mãe e encaminha-la, aos 58 anos, para diagnóstico correto, descobri que ela é uma mulher autista nível um de suporte. A vida dela se transformou, por finalmente entender ö que havia de errado no mundo”, segundo suas próprias palavras. Os sinais de autismo em idosos podem ser sutis e frequentemente confundidos com traços de personalidade, transtornos psicológicos ou até mesmo os efeitos do envelhecimento. É comum que essas pessoas sejam vistas como excêntricas, reservadas ou meticulosas, sem que isso seja associado ao espectro autista. Características como hipersensibilidade sensorial, dificuldade em lidar com mudanças ou uma preferência por rotinas rígidas podem ser interpretadas como simples manias da idade, dificultando ainda mais a identificação do autismo. O mascaramento ao longo da vida Além disso, muitos adultos mais velhos com TEA desenvolveram ao longo da vida o que os especialistas chamam de “mascaramento”. Eles aprenderam a imitar comportamentos sociais, suprimir traços que poderiam ser percebidos como estranhos e se esforçar para se encaixar em um mundo predominantemente neurotípico. Embora isso possa ter ajudado a evitar julgamentos ao longo dos anos, também gerou enorme desgaste emocional. Essas pessoas muitas vezes descrevem uma sensação constante de inadequação, como se estivessem interpretando um papel que não corresponde à sua verdadeira identidade. As questões emocionais envolvidas O diagnóstico tardio também levanta questões emocionais significativas. Muitos idosos relatam um sentimento de luto pelo tempo perdido, pela falta de compreensão e pelo sofrimento desnecessário. Algumas dessas pessoas passaram décadas sendo mal interpretadas, rotuladas como tímidas, ansiosas ou até mesmo antissociais. Outras foram medicadas inadequadamente para problemas que, na verdade, eram manifestações do autismo. Esse histórico de mal-entendidos pode deixar marcas profundas na autoestima e na saúde mental. Oportunidade de ressignificação Por outro lado, a descoberta do autismo na terceira idade pode ser uma oportunidade de ressignificação. Para alguns, o diagnóstico traz a possibilidade de buscar apoio, adaptar a rotina e se conectar com outras pessoas no espectro. Organizações e grupos de apoio para adultos autistas vêm crescendo, oferecendo espaços seguros para compartilhar experiências e trocar estratégias para lidar com os desafios cotidianos. Isso é especialmente importante para idosos que, por muito tempo, acreditaram estar sozinhos em suas dificuldades. O papel da família e dos amigos A família e os amigos também desempenham um papel crucial nesse processo. Quando o diagnóstico é feito na terceira idade, muitas vezes é necessário um esforço conjunto para reavaliar a história de vida dessa pessoa e ajustar a maneira como as relações são conduzidas. É importante que aqueles ao redor entendam que o autismo não desaparece com a idade e que, embora a pessoa possa ter aprendido a lidar com certos aspectos, outros desafios permanecem. A compreensão e a empatia são fundamentais para ajudar o idoso a navegar por essa nova fase da vida. O impacto na história familiar Além disso, não só suas vidas são transformadas como de familiares também. Durante muito tempo da minha vida acreditei que minha mãe era uma pessoa fria, sem sentimentos e que não me amava, só depois de ver características dela em meu filho autista é que fui percebendo suas dificuldades com contato físico, muita interação social e etc. Em outras palavras, o diagnóstico da minha mãe não mudou apenas a vida dela, mas significou toda minha história! O papel do psicólogo nesse contexto é indispensável. Um profissional qualificado pode ajudar o idoso a processar o impacto emocional do diagnóstico e a explorar estratégias para melhorar sua qualidade de vida. Muitos idosos diagnosticados com autismo descrevem uma sensação de sobrecarga emocional, especialmente ao revisitar memórias do passado com essa nova perspectiva. A terapia pode ser um espaço seguro para explorar esses sentimentos, reconhecer os avanços feitos ao longo da vida e criar planos para o futuro. Além disso, o psicólogo pode ajudar a identificar e lidar com condições coexistentes que são comuns em pessoas autistas, como ansiedade, depressão ou transtornos obsessivo-compulsivos. Esses problemas muitas vezes são intensificados pela falta de diagnóstico precoce e pela sensação de inadequação vivida ao longo dos anos. Um acompanhamento psicológico cuidadoso pode auxiliar o idoso a entender como essas condições se relacionam com o autismo e a desenvolver ferramentas para gerenciá-las. Outra questão importante é o